sábado, 25 de agosto de 2012

VOLTAIRE & TOLERÂNCIA

Tratado sobre a Tolerância (Voltaire) - 


Como a tolerância pode ser admitida


Ouso supor que um ministro esclarecido e magnânimo, um prelado humano e sensato, um príncipe que sabe que seu interesse consiste no maior número de súditos, e sua glória na felicidade deles, dignar-se-á lançar os olhos sobre este escrito informe e defeituoso: suprem-no suas próprias luzes; ele diz a si mesmo: que risco correria eu em ver a terra cultiva e melhorada por mais mãos laboriosas, os tributos aumentados, o Estado florescendo mais?

A Alemanha seria um deserto coberto de ossadas de católicos, evangélicos, reformados, anabatistas, mortos uns pelos outros, se a paz de Vestefália não tivesse proporcionado, enfim, a liberdade de consciência.

Temos judeus em Bordéus, em Metz, na Alsácia; temos luteranos, molinistas, jansenistas; não podemos então tolerar e admitir os calvinistas, ao menos nas mesmas condições em que os católicos são tolerados em Londres? Quanto mais seitas houver, tanto menos perigosa cada uma será; a multiplicidade as enfraquece; todas são reprimidas por justas leis que proíbem as assembléias tumultuosas, as injúrias, as sedições, e que estão sempre em vigor pela força coativa.

Sabemos que vários chefes de família, que fizeram grandes fortunas em países estrangeiros, estão dispostos a retornar à sua pátria; não pedem senão a proteção da lei natural, a validade de seus casamentos, a certidão reconhecida de seus filhos, o direito de herdar dos pais, a franquia de suas pessoas; nada de templos públicos, nada de direito aos cargos municipais, às dignidades – os católicos não os tem em Londres nem em vários outros países. Não se trata de dar privilégios imensos, áreas de segurança a uma facção, mas de deixar viver um povo pacífico, de abrandar editos talvez necessários outrora, mas que já não o são. Não cabe a nós indicar ao ministério o que ele pode fazer; basta implorá-lo em favor dos infortunados.

Quantos meios de torná-los úteis e de impedir que sejam perigosos! A prudência do conselho e do ministério, apoiada pela força, encontrará com facilidade esses meios, que tantas outras nações, por sinal, empregam de maneira exitosa.

Há fanáticos ainda na população calvinista; mas é certo que os há em maior número na populaça convulsionária. A escória dos insensatos de Saint-Médard [que era um centro de “devoção” jansenista] contou muito pouco na nação; a dos profetas calvinistas, quase nada. O grande meio de diminuir o número de maníacos, se restarem, é submeter essa doença do espírito ao regime da razão, que esclarece lenta, mas infalivelmente, os homens. Essa razão é suave, humana, inspira a indulgência, abafa a discórdia, fortalece a virtude, torna agradável a obediência às leis, mais ainda do que a força é capaz. E não se há de levar em conta o ridículo, hoje associado ao entusiasmo [religioso desmedido] pelas pessoas de bem? Esse ridículo é uma poderosa barreira contra as extravagâncias de todos os sectários. Os tempos passados são como se jamais tivessem existido. É preciso sempre partir do ponto em que se está e daquele a que chegaram as nações.

Houve um tempo em que se julgou necessário emitir decretos contra os que ensinavam uma doutrina contrária às categorias de Aristóteles, ao horror do vazio, às qüididades e ao universal por parte da coisa. Temos na Europa mais de cem volumes de jurisprudência sobre feitiçaria e sobre a maneira de distinguir os falsos feiticeiros dos verdadeiros. A excomunhão dos gafanhotos e dos insetos nocivos à colheita esteve muito em moda e ainda subsiste em vários rituais. A moda passou; Aristóteles, os feiticeiros e os gafanhotos foram deixados em paz. Os exemplos dessas graves demências, outrora tão importantes, são inumeráveis. De tempos em tempos surgem outros; mas, quando fizeram o seu efeito, quando se está farto deles, desaparecem. Se alguém ousasse hoje ser carpocratiano, ou eutiquesiano, ou monotelista, monofisita, nestoriano, maniqueu, etc., o que aconteceria? Ririam dele, como de um homem vestido à antiga, com um colarinho de pregas e um gibão.

A nação começava a entreabrir os olhos quando os jesuítas Le Tellier e Doucin fabricaram a bula Unigenitus, que enviaram de Roma. Acreditavam estar ainda naqueles tempos de ignorância, em que os homens aceitavam sem exame as asserções mais absurdas. Ousaram condenar esta proposição, que é uma verdade universal em todos os casos e em todos os tempos: “O temor de uma excomunhão injusta não deve impedir o cumprimento do dever”. Era proscrever a razão, as liberdades da igreja galicana, e o fundamento da moral; era dizer aos homens: Deus vos ordena jamais cumprirdes o vosso dever, conquanto temais a injustiça. Jamais o senso comum foi ferido tão acintosamente. Os consultores de Roma não prestaram atenção nisso. Persuadiu-se o tribunal de Roma que essa bula era necessária e que a nação a desejava; foi assinada, selada e enviada. Sabemos os desdobramentos; certamente, se os tivessem previsto, teriam mitigado a bula. As querelas foram acirradas; a prudência e a bondade do rei finalmente as apaziguaram.

O mesmo ocorre numa grande parte dos pontos que dividem os protestantes e nós: há alguns que não têm a menor conseqüência; há outros mais graves, mas sobre os quais o furor da disputa arrefeceu de tal maneira que os próprios protestantes não pregam hoje a controvérsia [sobre isso] em nenhuma de suas igrejas.

É, portanto, esse tempo de fastio, de saciedade, ou melhor, de razão, que podemos perceber como uma época e uma garantia da tranqüilidade pública. A controvérsia é uma doença epidêmica a ponto de extinguir-se, e essa peste, da qual vamos nos curando, não requer agora mais do que um regime suave. Enfim, o interesse do Estado é que filhos expatriados retornem com modéstia à casa de seu pai: a humanidade o exige, a razão o aconselha, e a política não se pode assustar com isso.

DAVID NIVEN & PESSOAS FELIZES

OS 100 SEGREDOS DAS PESSOAS FELIZES


- DAVID NIVEN - 


(Tradução: Maria Claudia Coelho)





"O que você pode fazer com a psicologia?" era a pergunta que Harry repetia. E ele mesmo respondia: "Tudo o que podemos fazer é divulgar as melhores respostas que tivermos. Desta forma as pessoas terão uma chance de usá-las..."



Introdução: A Ciência da Felicidade 

Não existe a menor dúvida: ser feliz é o desejo de todo ser humano.

Mas o que é ser feliz e como fazer para atingir a felicidade com que todos sonhamos?

Baseado nas pesquisas e estudos de cientistas junto a milhares de pessoas, o psicólogo e cientista social Dr. David Niven organizou a lista dos cem segredos mais simples que são realmente capazes de tornar as pessoas felizes.



1.  Use uma estratégia para alcançar a felicidade


Costumamos achar que as pessoas felizes e infelizes já nascem feitas. Mas não é assim. Tanto as pessoas felizes quanto as infelizes fazem coisas que criam e reforçam seus estados de espírito. As pessoas felizes permitem-se ser felizes. As pessoas infelizes continuam a fazer coisas que as aborrecem, prejudicam, contribuem para sua infelicidade.

Qual é a primeira condição para que um negócio dê certo? Um plano de negócios bem feito. Este é o argumento defendido pelos técnicos do Centro de Administração Estratégica, uma firma de consultoria empresarial. Eles acreditam que cada negócio precisa definir seu objetivo e em seguida criar uma estratégia para alcançá-Io.

O mesmo acontece com as pessoas. Defina o que você quer e então use uma estratégia para consegui-lo.

Por incrível que pareça, as crianças são melhores nisso do que os adultos. As crianças pequenas sabem muito bem qual é o momento e o modo de fazer pirraça para conseguir um sorvete. E sabem qual é o nível de gritaria que provocará uma reprimenda dos pais. As crianças compreendem que há regras e padrões previsíveis na vida e usam uma estratégia para conseguir o que querem.

Viver uma vida feliz na idade adulta é como tentar conseguir aquele sorvete em criança. Você precisa saber o que quer e usar a melhor estratégia para consegui-lo. São pequenas coisas e pequenas atitudes, que, somando-se, vão construindo a felicidade. Quando eu estudava na universidade, fazia muito calor durante uma aula e o professor não tomava qualquer iniciativa para ligar o aparelho de ar condicionado. Os alunos começaram a resmungar, murmurando coisas do tipo "que calor infernal", "que sujeito sovina". De repente, uma das alunas, com um sorriso amável, disse em voz alta: "Por favor, o senhor poderia ligar o ar condicionado?" Acto contínuo, o professor se levantou e acionou o aparelho. Houve protestos: "Ela é a queridinha dele." O mestre olhou para a turma e afirmou serenamente: "Não, ela foi a única que pediu." Situações como essa se multiplicam pela vida fora. Pense nas coisas que você realmente deseja e na melhor forma de consegui-las. Descubra as que lhe causam tristeza e procure conscientemente a melhor maneira de evitá-las.

As pessoas felizes têm um sucesso após o outro, e as pessoas infelizes, um fracasso após o outro. As pesquisas mostram que as experiências de vida das pessoas felizes e infelizes tendem a ser muito semelhantes. A diferença é que a pessoa infeliz (não estamos falando de grandes desgraças) passa boa parte do tempo pensando no que lhe acontece de negativo, ou mesmo nos aspectos negativos de acontecimentos positivos, enquanto que as pessoas felizes tendem a valorizar tudo o que lhes acontece de positivo ou a extrair o aspecto positivo de todas as suas experiências.
(Lyubomirsky, 1994)

LEITORES BRASILEIRO EXCETO 77 MILHÕES ?

O Brasil dos livros

(Artigo de Galeno Amorim*)


Responda rápido: o Brasil é um país de leitores ou de não-leitores?

De olho em números como aqueles trazidos pela pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (que eu coordenei, em 2008, para o Instituto Pró-Livro), indicando, por exemplo, que 77 milhões de brasileiros confessam não ter sequer folheado um livro nos últimos tempos, muitos dirão, com toda razão, que, de fato, não é este um país de cidadãos leitores.

Mas talvez alguns – olhando para esse mesmo estudo, que também apontou que 95 milhões de brasileiros podem ter lido pelo menos um livro nos três meses anteriores – não pensem bem assim. Não que digam exatamente que o Brasil tornou-se um país de leitores. Mas que podemos estar no caminho para, um dia, finalmente poder dizer isso.

É muito provável que parte desses presumíveis leitores não tenha aberto um livro nos últimos tempos ou, se abriram, não chegaram ao fim deles (por sinal, um dos direitos do leitor, de acordo com a UNESCO). De qualquer maneira, já é este um indicativo de alguma valorização do livro e da leitura no imaginário coletivo da sociedade.

Muitos desses acharam que seria, no mínimo, desconfortável dizer que simplesmente não leem. No Reino Unido, um estudo mostrou, por exemplo, que jovens mentem que leram determinadas obras porque isso faz com que sejam mais bem avaliados perante o sexo oposto. Melhor ainda, evidentemente, será quando tiverem de fato lido os livros que disseram ter lido. Mas não deixa de ser um dado.

Um outro dado, que também mostra as disparidades não só dos números como das práticas (ou não) leitoras pelo país afora, foi a festa organizada no último dia 21 de maio pela editora carioca Sextante. Tinha bolo e tudo. O motivo: celebrar a expressiva marca de 2 milhões de livros vendidos do seu título A cabana, de William P. Young. A obra permaneceu mais de 80 semanas entre os mais vendidos nas listas dos principais veículos de comunicação.

O que, convenhamos, não é pouco. Sobretudo quando se ouve editores se queixarem que a tiragem média no Brasil não passa de 3 mil exemplares e que isso leva anos para ser vendido – quando é vendido.

Para vender mais livros é preciso ter mais leitores. Para ter mais leitores é preciso incentivar mais a leitura. E para incentivar mais a leitura é preciso ter políticas públicas. E o Brasil, pela primeira vez, em mais de 500 anos de história, hoje já tem um Plano Nacional do Livro e da Leitura, que tem investido em mais e novas bibliotecas, ampliou o número de feiras e bienais do livro, isentou o livro de impostos e investiu em propagandas.

É pouco?

Sim, ainda é pouco, porque há muito o que fazer para vencer um histórico de ausência absoluta de políticas públicas e o descaso de diversos governos. Mas a sensação é que sociedade e Estado começam a virar esse jogo. É o efeito dominó do bem: mais políticas públicas, mais incentivos, mais leitores, mais vendas. E um Brasil mais preparado e justo.

(*Galeno Amorim é jornalista, escritor e diretor do Observatório do Livro e Leitura. Criou o Plano Nacional do Livro e Leitura, no Governo Lula, e é considerado um dos maiores especialistas do tema Livro e Leitura na América Latina.)

[Fonte: Blog do Galeno]

SAÚDE & VITAMINA

As Vitaminas do Complexo B



O complexo B é formado por oito vitaminas que assemelham-se quanto às funções nas reações do metabolismo e produção de energia. São elas: tiamina, riboflavina, niacina, ácido pantotênico, piridoxina, biotina, ácido fólico e cianocobalamina.

Tiamina (B1)
A tiamina participa da formação de coenzimas envolvidas no metabolismo dos carboidratos (transformação de glicose em energia), e desempenha um importante papel na condução dos impulsos nervosos.
A deficiência de tiamina acarreta: irritabilidade, ansiedade, nervosismo, indigestão e perda de memória.
As principais fontes alimentares de tiamina incluem: alimentos enriquecidos ou fortificados, grãos integrais, pães e outros cereais.

Riboflavina (B2)
Exerce um papel importante no metabolismo dos carboidratos, além de atuar no metabolismos de ácidos graxos e aminoácidos.
A deficiência está relacionada à ocorrência de glossite, estomatite angular, queratose, dermatite, rachaduras nos pés e manifestações oculares.
As principais fontes de riboflavina incluem: fígado, leguminosas, leite, rim, carnes, ovos, ostras, gérmen de trigo, nabo, beterraba, levêdo de cerveja e farelo de arroz.

Niacina (B3)
Nutriente fundamental para que ocorra reações químicas do corpo
que fornecem energia para as células.
A deficiência desta vitamina correlaciona-se a dermatites, estomatites, diarréias, cefaléia, depressão e lapsos de memória e pelagra.
As principais fontes de niacina incluem: fígado, carnes, aves, pescados, grãos integrais, pães, cereais enriquecidos e legumes correspondem à alimentos ricos em ácido nicotínico.

Ácido Pantotênico (B5)
O ácido pantotênico auxilia na produção de energia através de carboidratos, lipídeos e aminoácidos.
A deficiência pode causar: doenças neurológicas, sonolência, dor de cabeça, flatulência (gases), irritabilidade e nervosismo.
As principais fontes de incluem: carnes, miúdos,ovo e cereais integrais.

Piridoxina (B6)
Nutriente que partcipa do metabolismo das proteínas, da produção de hormônios, de hemácias e anticorpos, e é essencial para a manutenção do funcionamento do sistema nervoso central.
A deficiência da vitamina pode gerar: aumento de peso, desordens na pele, anemia, perda do controle muscular, fadiga, irritabilidade e depressão.
As principais fontes de piridoxina incluem: banana, frango, miúdos, carne, porco, manteiga de amendoim, feijão preto, trigo integral, cereais e pães enriquecidos.

Biotina (B8)
Regula metabolismo dos ácidos graxos (gorduras) e participam na síntese das proteínas, carboidratos e gorduras. Alivia dores e dermatite.
A deficiência pode gerar: retenção de líqudios, queda de cabelo, vômito, enjôo, unhas fracas e cansaço.
A biotina pode ser encontrada através de levedura, arroz integral, frutas, nozes, ovos, carnes, leite.

Ácido fólico (B9)
Participa da formação das células vermelhas do sangue e é essencial para o crescimento e reprodução de todas as células do organismo.
A deficiência pode gerar: aftas, cansaço, fraqueza muscular, dor de cabeça, dor nas pernas e diminuíção da memória.
As principais fontes alimentares são: vegetais verde escuros, feijão, ervilha, miúdos, carne, frutos do mar, ovos, levedo de cerveja, brócolis, repolho e alimentos enriquecidos.

Cianocobalamina (B12)
Participa do processo de formação dos glóbulos vermelhos.
A deficiência pode gerar: anemia, fraqueza, formigamento de mãos e pés, irritabilidade e cansaço.
As principais fontes são: carnes, ovos, queijos, miúdos, cereais integrais e vegetais verde escuros.

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SAÚDE & ALIMENTOS

Alimentos que melhoram o humor



Com a correria do dia a dia, é muito fácil a gente deixar o mau humor nos dominar.
Existem diversas pesquisas científicas que comprovam que alguns alimentos nos ajudam a aumentar a liberação e a produção neurotransmissores (sustâncias que circulam pelo cérebro e são responsáveis pela sensação de bem estar e prazer), entre eles: serotonina, endorfina e dopamina. Este é o mecanismo usado por vários antidepressivos medicamentosos. Veja só, você pode melhorar o seu humor passando no supermercado, não na farmácia!

- Chocolate: Além do açúcar, contém tirosina – substância que estimula a produção de serotonina . Dispara a produção de endorfina e dopamina, neurotransmissores responsáveis pelo relaxamento. Mas não vai se animando e achando que está “ liberado geral”, não exagere, açúcar demais faz o efeito inverso e piora o humor – mais para frente eu explico o porquê. Além do que, se você aumentar de peso, com certeza vai ficar mal humorado!

- Aveia: Cereal que contém altas doses de triptofano. Além do aminoácido que auxilia o organismo a liberar a serotonina, também tem bons níveis de selênio, que colabora para a produção de energia.

- Banana: Contém duas substâncias que auxiliam o humor: os carboidratos, que estimulam a produção de serotonina e a vitamina B6, que garante mais energia.

- Pimenta: A sensação de ardência é provocada pela capsaicina – substância presente na pimenta – e faz com que o cérebro produza mais endorfina, neurotransmissor responsável pela sensação de euforia. A pimenta-de-cheiro, a vermelha e a malagueta são as melhores para o humor.

Transformar-se e depois poderás transformar algo ou alguém

A assembléia das ferramentas (Dra. Maria Salette)


Contam que, numa carpintaria, realizou-se uma estranha assembléia. Foi uma reunião de ferramentas, para acertar suas diferenças.

O martelo assumiu a presidência, mas os participantes não permitiram, dizendo que ele teria de renunciar. A causa? Fazia demasiado barulho e, além do mais passava todo o tempo golpeando. O martelo aceitou sua culpa, mas pediu que também fosse expulso o parafuso, alegando que ele dava muitas voltas para conseguir algo.

Diante do ataque, o parafuso concordou, mas, por sua vez, pediu a expulsão da lixa. Reclamava que ela era muito áspera no tratamento com os demais, entrando sempre em atritos.

A lixa acatou a decisão, mas sugeriu que teriam de expulsar o metro, que sempre media os outros segundo a sua medida, como se fosse o único perfeito.

Nesse momento entrou o carpinteiro, juntou o material e iniciou o seu trabalho. Utilizou o martelo, a lixa, o metro e o parafuso. Finalmente, a rústica madeira se converteu num fino móvel.

Quando a carpintaria ficou novamente só, a assembléia reativou a discussão. Foi então que o serrote tomou a palavra e disse: "Senhores, ficou demonstrado que temos defeitos, mas o carpinteiro trabalha com nossas qualidades, com nossos pontos valiosos. Assim, não vamos nos fixar em nossos pontos fracos, mas concentremo-nos em nossos pontos fortes."

A assembléia entendeu que o martelo era forte, o parafuso unia e dava força, a lixa era especial para limar e afinar as asperezas, e o metro era preciso e exato. Viram-se então como uma equipe, capaz de produzir móveis de qualidade. Sentiram alegria pela oportunidade de trabalhar juntos.

É facil encontrar defeitos, qualquer um pode fazê-lo. Mas encontrar qualidades... isso é para os sábios! Seja um deles.

(Dra. Maria Salette, psicóloga e fundadora da Comunidade Terapêutica Casa de Maria, em sua obra: "Para que minha vida se transforme", Editora Verus, 2001, páginas 93-94)

Pai Sério é Edificante

O fazendeiro e seus filhos


AUTOR: ESOPO (Século VII a.C.)

O FAZENDEIRO E SEUS FILHOS

"Um rico e já idoso fazendeiro, que sabia não ter mais tantos de anos de vida pela frente, chamou seus filhos à beira da cama e lhes disse:

"Meus filhos, escutem com atenção o que tenho para lhes dizer. Não façam partilha da fazenda que por muitas gerações tem pertencido a nossa família. Em algum lugar dela, no campo, enterrado, há um valioso tesouro escondido. Não sei o ponto exato, mas ele está lá, e com certeza o encontrarão. Se esforcem, e em sua busca, não deixem nenhum ponto daquele vasto terreno intocado."

Dito isso o velho homem morreu, e tão logo ele foi enterrado, seus filhos começaram seu trabalho de busca. Cavaram com vontade e força, revirando cada pedaço de terra da fazenda com suas pás e seus fortes braços.

E continuaram por muitos dias, removendo e revirando tudo que encontravam pela frente. E depois de feito todo trabalho, o fizeram outra vez, e mais outra, duas, três vezes.

Nenhum tesouro foi encontrado. Mas, ao final da colheita, quando eles se sentaram para conferir seus ganhos, descobriram que haviam lucrado mais que todos seus vizinhos. Isso ocorreu porque ao revirarem a terra, o terreno se tornara mais fértil, mais favorável ao plantio, e consequentemente, a generosa safra.

Só então eles compreenderam que a fortuna da qual seu pai lhes falara, era a abundante colheita, e que, com seus méritos e esforços haviam encontrado o verdadeiro tesouro".

Moral da História:
O Trabalho diligente é em si um tesouro.

(Fonte: http://sitededicas.uol.com.br/fabula_fazendeiro_e_os_filhos.htm )

Leite ou Manteiga Eis a questão?

Persistência! - A lição da rã...



Duas rãs brincavam distraidamente e saltitavam dentro de um curral.

De repente, num desses saltos, caíram ambas num latão cheio de leite.

As bordas do latão eram lisas e altas, não havia a menor possibilidade de saírem dali.

Mergulhadas no líquido, não havia como impulsionar o corpo e saltar para fora.

Ao perceber que sua amiga estava quase se afogando, a primeira rã disse:

- Não esmoreça! Continue batendo os braços! Mantenha-se flutuando!

- Não adianta! respondeu a outra. Estou exausta! E de que adianta manter-me flutuando se não existe nenhuma maneira de sair daqui?

- Não desista! Mantenha a calma e lute! Enquanto há vida, há esperança! Continue batendo os braços com toda a força!

- Não vale a pena! Estou me cansando e não consigo ver como poderemos nos salvar.

Dito isso, parou de se debater, afundou e morreu afogada.

- Não posso desistir! disse a primeira. Deve haver uma saída. Vou continuar me debatendo. Tenho que me manter viva.

Debateu-se a noite inteira.

E debateu-se tanto dentro do leite, que este acabou virando manteiga.

Agora, sim, apoiada sobre uma base sólida, bastou descansar um pouquinho, tomar impulso para fora do latão, e recomeçar sua vida sã e salva...

(Estória extraída da obra: "Para que minha vida se transforme", da Dra. Maria Salette de A. Silva, psicóloga, fundadora da Comunidade Terapêutica Casa de Maria. Páginas 29-30, Verus Editora)

FABULA EIS A REUNIÃO PERFEITA

Fábulas edificantes (II): Os porcos-espinhos


Consta que, durante uma era glacial, muito remota, quando parte do globo terrestre esteve coberto por densas camadas de gelo, muitos animais não resistiram ao frio intenso e, indefesos, morreram por não se adaptarem às condições do clima hostil.

Foi então que uma grande manada de porcos-espinhos, numa tentativa de se proteger e sobreviver, começou a se unir, e juntar-se mais e mais.

Assim, cada um podia sentir o calor do corpo do outro e sobreviver ao frio.

E todos juntos, bem unidos, agasalhavam-se mutuamente, aqueciam-se enfrentando por mais tempo aquele inverno glacial, tenebroso.

Porém, vida ingrata, os espinhos de cada um começaram a ferir os companheiros mais próximos, justamente aqueles que lhes forneciam mais calor, aquele calor vital, questão de vida ou morte e afastaram-se feridos, magoados, hostilizados, por não suportarem mais tempo os espinhos dos seus companheiros.

Aqueles espinhos que aqueciam também feriam e doíam muito...

Mas, descobriram depois que essa também não era a melhor solução: afastados, separados, logo começaram a morrer congelados.

Os que não morreram voltaram a se aproximar, pouco a pouco, com jeito, com precauções, compreensão, de tal forma que, unidos, cada qual conservava uma certa distância do outro, mínima, mas o suficiente para se beneficiarem do calor uns dos outros e resistir à longa era glacial.

E estes sobreviveram...


(Fonte: http://www.fabulasecontos.com.br/?pg=descricao&id=95 )

Reflexão: O devorador

O sapo cururu


“Tudo quieto, o primeiro cururu surgiu na margem, molhado, reluzente semi-escuridão. Engoliu um mosquito; baixou a cabeçorra; tragou um cascudinho; mergulhou de novo, e glu-glu! Soou uma nota soturna do concerto interrompido. Em poucos instantes, o barreiro ficou sonoro, como um convento de frades. Vozes roucas, foi-não-foi, tãs-tãs, glu-glus, choros, esgoelamentos finos de rãs, acompanhamentos profundos de sapos, respondiam-se.
Os bichos apareciam, mergulhavam, arrastavam-se nas margens, abriam grandes círculos na flor d’água. (...) Daí a pouco, da bruta escuridão, surgiram dois olhos luminosos, fosforescentes, como dois vagalumes. Um sapo cururu fitou-os e ficou deslumbrado, com os olhos esbugalhados, presos naquela boniteza luminosa. Os dois olhos fosforescentes se aproximavam mais e mais, como dois pequenos holofotes na cabeça triangular da serpente. O sapo não se movia, fascinado. Sem dúvida queria fugir; previa o perigo, porque emudecera; mas já não podia andar, imobilizado; os olhos feiíssimos agarrados aos olhos luminosos e bonitos como uma isca. Num bote, a cabeça triangular da serpente abocanhou a boca imunda do batráquio. Ele não podia fugir àquele beijo. A boca fina do réptil arreganhou-se desmesuradamente; envolveu o sapo até os olhos. Ele se baixava dócil entregando-se à morte tentadora, apenas agitando docemente as patas sem provocar nenhuma reação ao sacrifício. A barriga disforme e negra desapareceu na goela dilatada da cobra. E, num minuto, as perninhas do cururu lá se foram, ainda vivas, para as entranhas famélicas. O coro imenso continuava sem dar fé do que acontecia a um dos seus cantores.”



(Jorge de Lima in: Calunga; O anjo. Editora Agir, Rio: 1959, 3ª ed., p. 160-1)


Compare-se esse caso com a história da perdição de tantas crianças no mundo das drogas e se perceberão notáveis semelhanças...

Em Reunião tem Enigma de Carlos Drummond de Andrade

Enigma...



(Conto de Carlos Drummond de Andrade)


As pedras caminhavam pela estrada. Eis que uma forma obscura lhes barra o caminho. Elas se interrogam, e à sua experiência mais particular. Conheciam outras formas deambulantes, e o perigo de cada objeto em circulação na terra. Aquele, todavia, em nada se assemelha às imagens trituradas pela experiência, prisioneiras do hábito ou domadas pelo instinto imemorial das pedras. As pedras detêm-se. No esforço de compreender, chegam a imobilizar-se de todo. E na contenção desse instante, fixam-se as pedras – para sempre – no chão, compondo montanhas colossais, ou simples e estupefatos e pobres seixos desgarrados.

Mas a coisa sombria – desmesurada, por sua vez – aí está, à maneira dos enigmas que zombam da tentativa de interpretação. É mal de enigmas não se decifrarem a si próprios. Carecem de argúcia alheia que os liberte de sua confusão amaldiçoada. E repelem-na ao mesmo tempo, tal é a condição dos enigmas. Esse travou o avanço das pedras, rebanho desprevenido, e amanhã fixará por igual as árvores, enquanto não chega o dia dos ventos, e o dos pássaros, e o do ar pululante de insetos e vibrações, e o de toda vida, e o da mesma capacidade universal de se corresponder e se completar que sobrevive à consciência. O enigma tende a paralisar o mundo.

Talvez que a enorme Coisa sofra na intimidade de suas fibras, mas não se compadece nem de si nem daqueles que reduz à congelada expectação.

Ai! de que serve a inteligência – lastimam-se as pedras. Nós éramos inteligentes, e contudo, pensar a ameaça não é removê-la; é criá-la.

Ai! de que serve a sensibilidade – choram as pedras. Nós éramos sensíveis, e o dom da misericórdia se volta contra nós, quando contávamos aplicá-lo a espécies menos favorecidas.

Anoitece, e o luar, modulado de dolentes canções que preexistem aos instrumentos de música, espalha no côncavo, já pleno de serras abruptas e de ignoradas jazidas, melancólica moleza.

Mas a Coisa interceptante não se resolve. Barra o caminho e medita, obscura.


(Carlos Drummond de Andrade, in: Reunião. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977; p. 162.)

O LOBO

O lobo de Gúbio


No tempo em que São Francisco morava na cidade de Gúbio, no condado de Gúbio, apareceu um lobo muito grande, terrível e feroz, que não somente devorava os animais, mas também os homens; tanto que todos os cidadãos viviam um grande medo, pois diversas vezes ele se aproximava da cidade. E todos andavam armados quando saíam da cidade, como se fossem combater. E mesmo assim não podiam defender-se do lobo se se encontrassem sozinhos com ele. E por medo desse lobo, chegaram a uma situação em que ninguém ousava sair fora da terra.

Por esse motivo, tendo São Francisco compaixão das pessoas da terra, quis sair para encontrar o lobo, ainda que os cidadãos em conjunto não o aconselhassem. Mas, fazendo o sinal da Santíssima cruz, saiu fora da terra, ele com os seus companheiros, pondo toda a confiança em Deus. E como os outros ficassem na dúvida se deviam ir mais adiante, São Francisco tomou o caminho para o lugar onde o lobo ficava. E eis que, diante de muitos cidadãos que tinham vindo para ver esse milagre, o dito lobo foi ao encontro de São Francisco, de boca aberta. Aproximando-se dele, São Francisco lhe fez o sinal da santíssima cruz, chamou-o a si e disse assim:

“Vem aqui, frei lobo, eu te mando da parte de Cristo que não faças mal nem a mim nem a ninguém”.

Coisa admirável de dizer! Logo que São Francisco fez a cruz, o lobo terrível fechou a boca e parou de correr; e, dada a ordem, veio mansamente como um cordeiro, e lançou-se aos pés de São Francisco, deitado. E São Francisco assim lhe falou:

“Frei lobo, tu fazes muito danos por aqui, e fizeste grandes malefícios, estragando e matando as criaturas de Deus sem a sua licença. E não somente mataste e devorastes animais, mas tiveste a ousadia de matar pessoas, feitas à imagem de Deus. Por isso tu mereces a forca, como ladrão e péssimo homicida. E todo mundo grita e murmura contra ti, e toda esta terra ficou tua inimiga. Mas eu quero, frei lobo, fazer a paz entre tu e eles, de modo que tu não os ofendas mais e eles te perdoem todas as ofensas passadas, e nem os homens nem os cães continuem a te perseguir”.

Ditas essas palavras, o lobo, com gestos do corpo, da cauda e das orelhas, e inclinando a cabeça, mostrava que aceitava o que São Francisco dissera e queria observa-lo. Então São Francisco disse:

“Frei lobo, porque te agrada fazer e manter esta paz, eu te prometo que te farei com que as pessoas desta terra te dêem continuamente a comida enquanto viveres, de modo que não sofrerás fome. Pois eu sei que foi pela fome que fizeste todo o mal. Mas como eu te concedo esta graça eu quero, frei lobo, que tu me prometas que tu não prejudicarás jamais a nenhuma pessoa humana nem a algum animal: tu me prometes isso?”

E o lobo, inclinando a cabeça, fazia um sinal evidente de que estava prometendo. E São Francisco disse:

“Frei lobo, quero que me dês prova dessa promessa, para eu poder bem confiar”.

E como São Francisco estendeu a mão para receber seu juramento, o lobo levantou a pata direita e a colocou mansamente sobre a mão de São Francisco, dando-lhe o sinal que podia.
Então São Francisco disse:

“Frei lobo, eu te mando em nome de Jesus Cristo que tu venhas agora comigo, sem duvidar nem um pouco. Vamos confirmar esta paz, em nome de Deus”.

E o lobo, obediente, foi com ele como se fosse um carneirinho manso. Vendo isso, os cidadãos ficaram muito admirados. E a novidade ficou logo conhecida por toda a cidade. Por isso todas as pessoas, homens e mulheres, grandes e pequenos, jovens e velhos, foram para a praça ver o lobo com São Francisco. E estando o povo aí, em reunido, São Francisco levantou-se e pegou para eles, dizendo, entre outras coisas, como pelos pecados Deus promete coisas desse tipo e pestilências, e mais perigosa é a chama do inferno, que vai durar eternamente para os condenados, do que a raiva do lobo, que não pode matar senão o corpo:

“Então, como devemos temer a boca do inferno, quando tamanha multidão tem medo e tremor diante da boca de um pequeno animal. Por isso, voltai para Deus, caríssimos, e fazei uma penitência digna de vossos pecados, e Deus vos libertará do lobo no presente e, no futuro, do fogo infernal”.

Feita a pregação, São Francisco disse:

“Ouvi, meus irmãos: frei lobo, que está aqui na frente de vós, me prometeu, e jurou, que vai fazer as pazes convosco e que não vai mais vos ofender em coisa alguma, e vós prometeis dar-lhe cada dia as coisas necessárias, e eu entro como fiador dele, de que vai observar firmemente o pacto”.

Então todo o povo, a uma só voz, prometeu alimenta-lo continuamente. E São Francisco, diante de todos, disse ao lobo:

“E tu, frei lobo, prometes a estas pessoas observar o pacto da paz, de modo que não ofendas nem os homens, nem os animais, nem criatura alguma?”.

E o lobo, ajoelhou-se, inclinou a cabeça, e com gestos mansos de corpo, de cauda e das orelhas, mostrava, quanto possível que queria observar todo pacto. São Francisco disse:

“Frei lobo, eu quero que, como tu me juraste essa promessa fora da porta, também me dês fé da tua promessa diante de todo o povo, e que não me enganarás sobre a promessa e caução que eu fiz por ti”.

Então o lobo levantou a pata direita e colocou-a na mão de São Francisco. Daí, por causa desse ato e das outras coisas que foram ditas, houve tanta alegria e admiração em todo o povo, tanto pela devoção ao santo como pela novidade do milagre, e pela paz do lobo, que todos começaram a gritar para o céu, louvando e bendizendo a Deus, que lhes tinha mandado São Francisco, que pelos seus méritos os havia libertado da boca do cruel animal. Depois o lobo viveu dois anos em Gúbio, e entrava domesticamente pelas casas, de porta em porta, sem fazer mal a ninguém, e sem que o fizessem para ele. E foi alimentado cortesmente pelo povo. E mesmo andando assim pela terra e pelas casas, nunca um cão ladrava atrás dele. Finalmente, depois de dois anos, o lobo morreu de velho, causando muita dor aos cidadãos porque, vendo-o andar tão manso pela cidade, recordavam melhor a virtude e a santidade de São Francisco.

Para louvor de Jesus Cristo e do pobrezinho Francisco. Amém.

(IFIORETTI – capítulo 21)

(Fonte: http://almascastelos.blogspot.com/2011/01/o-lobo-de-gubio.html )

Fala sério II Esse Monteiro Lobato

O Jaboti e a Peúva



(Fábula de Monteiro Lobato)

Brigaram certa vez o jabuti e a peúva.
- Deixa estar! - disse esta furiosa - deixa estar que te curo, meu malandro! Prego-te uma peça das boas, verás...
E ficou de sobreaviso, com os olhos no astucioso bichinho que lá se ria dela sacudindo os ombros.
O tempo foi correndo... o jabuti esqueceu-se do caso; e um belo dia, distraidamente, passou ao alcance da peúva. A árvore incontinenti torceu-se, estalou e caiu em cima dela.
- Toma! Quero ver agora como te arrumas. Estás entalado e, como sabes, sou pau que dura para cem anos...
O jabuti não se deu por vencido.
Encorujou-se dentro da casca, cerrou os olhos como para dormir e disse filosoficamente:
- Pois como eu durmo mais de cem, esperarei que apodreças...

Moral da Estória:
A PACIÊNCIA DÁ CONTA DOS MAIORES OBSTÁCULOS.

Fala sério esse Monteiro Lobato

Os Dois Ladrões


(Fábula de Monteiro Lobato)

Dois ladrões de animais furtaram certa vez um burro, e como nõa pudessem reparti-lo em dois pedaços surgiu a briga.
- O burro é meu! - alegava um - o burro é meu porque eu o vi primeiro...
- Sim - argumentava o outro - você o viu primeiro; mas quem primeiro o segurou fui eu. Logo, é meu...
Não havendo acordo possível, engalfinharam-se, rolaram na poeira aos socos e dentadas.
Enquanto isso um terceiro ladrão surge, monta no burro e foge a galope.
Finda a luta, quando os ladrões se ergueram, moídos da sova, rasgados, esfolados...
- Que é do burro? Nem sombra! Riam-se - risadinha amarela - e um deles, que sabia latim, disse:
- Inter duos litigantes tertius gaudet.
Que quer dizer: quando dois brigam, lucra um terceiro mais esperto.

(http://delmamoraes.blogspot.com/2010/03/fabulas-de-monteiro-lobato.html )

Mitologia: Eros e Psiquê

Eros e Psiquê


Psiquê (em grego: Ψυχή, Psychē) é uma personagem da mitologia grega, personificação da alma.

Seu mito é narrado no livro O Asno de Ouro, de Apuleio, que a cita como uma bela mortal por quem Eros, o deus do amor, se apaixonou. Tão bela que despertou a fúria de Afrodite, deusa da beleza e do amor, mãe de Eros - pois os homens deixavam de frequentar seus templos para adorar uma simples mortal.

A deusa mandou seu filho atingir Psiquê com suas flechas, fazendo-a se apaixonar pelo ser mais monstruoso existente. Mas, ao contrário do esperado, Eros acaba se apaixonando pela moça - acredita-se que tenha sido espetado acidentalmente por uma de suas próprias setas.

Com o próprio deus do Amor apaixonado por ela, suas setas não foram lançadas para ninguém. O tempo passava, Psiquê não gostara de ninguém, e nenhum de seus admiradores tornara-se seu pretendente.

O erro de Psiquê

O rei, pai de Psiquê, cujo nome é desconhecido, preocupado com o fato de já ter casado duas de suas filhas, que nem de longe eram belas como Psiquê, quis saber a razão pela qual esta não conseguia encontrar um noivo. Consulta então o Oráculo de Apolo, que prevê, induzido por Eros (Cupido), ser o destino de sua filha casar com um ente monstruoso.

Após muito pranto, mas sem ousar contrariar a vontade de Apolo, a jovem Psiquê foi levada ao alto de um rochedo e deixada à própria sorte, até adormecer e ser conduzida pelo vento Zéfiro a um palácio magnifico, que daquele dia em diante seria seu.

Lá chegando a linda princesa não encontrou ninguém, mas tudo era suntuoso e, quando sentiu fome, um lauto banquete estava servido. À noite, uma voz suave a chamava e, levada por ela, conheceu as delícias do Amor, nas mãos do próprio deus do amor...

Os dias se passavam, e ela não se entediava, tantos prazeres tinha: acreditava estar casada com um monstro, pois Eros não lhe aparecia e, quando estavam juntos, ficava invisível. Ele não podia revelar sua identidade pois, assim, sua mãe descobriria que não cumprira suas ordens - e apesar disto, Psiquê amava o esposo, que a fizera prometer-lhe que jamais tentaria descobrir seu rosto.

Passado um tempo, a bela jovem sentiu saudade de suas irmãs e, implorando ao marido que permitisse que elas fossem trazidas a seu encontro. Eros resistiu e, ante sua insistência, advertiu-a para a alma invejosa das mulheres.

As duas irmãs foram, enfim, levadas. A princípio mostraram-se apiedadas do triste destino da sua irmã, mas vendo-a feliz, num palácio muito maior e mais luxuoso que o delas, foram sendo tomadas pela inveja. Constataram, então, que a irmã nunca tinha visto a face do marido. Disseram ter ouvido falar que ela havia se casado com uma monstruosa serpente que a estava alimentando para depois devorá-la, então sugeriram-lhe que, à noite, quando este adormecesse, tomasse de uma lâmpada e uma faca: com uma iluminaria o seu rosto; com a outra, se fosse mesmo um monstro, o mataria.

Psiquê resistiu os conselhos das imãs o quanto pôde, mas o efeito das palavras e a curiosidade da jovem tornaram-se fortes. Pôs em execução o plano que elas lhe haviam dito: Após perceber que seu marido entregara-se ao sono, levantou-se tomando uma lâmpada e uma faca, e dirigiu a luz ao rosto de seu esposo.

A jovem, espantada e admirada então com a beleza de seu marido, desastradamente deixa pingar uma gota de azeite quente sobre o ombro dele. Eros acorda - o lugar onde caiu o óleo fervente de imediato se transforma numa chaga: o Amor está ferido.

Percebendo que fora traído, Eros enlouquece, e foge, gritando repetidamente: O amor não sobrevive sem confiança!

Psiquê fica sozinha, e desesperada com seu erro, no imenso palácio. Precisa reconquistar o Amor perdido.
Eros voa pela janela e Psiquê tenta segui-lo, cai da janela e fica desmaiada no chão. Então o castelo desaparece. Psiquê volta para a casa dos pais, onde reecontra as irmãs que fingem piedade para com a irmã. Acreditam que o lindo Eros, solteiro, as aceitaria e seguem em direção ao belo palácio. Chamam por Zéfiro e, acreditando estar seguras pelo mordomo invisível, se jogam e caem no precipício.

Psiquê caminha noite e dia, sem repouso nem alimentação. Avista um belo templo no cume de uma montanha e acreditando encontrar seu amor escalou a montanha. Ao chegar no topo depara-se com montões de trigo, espigas de milho, cevada e ferramentas, todas misturadas e ela os separa e organiza. O templo pertencia a deusa Deméter: grata pelo favor da bela moça, lhe diz o que fazer para reconquistar o marido. Primeiro ela precisaria conseguir o perdão da sogra.

A Busca pelo Amor

Psiquê vaga pelo mundo, desesperada, até que resolve consultar-se num templo de Afrodite. A deusa, já cientificada de que fora enganada, e mantendo Eros sob seus cuidados, decide impor à pobre alma uma série de tarefas, esperando que delas nunca se desincumbisse, ou que tanto se desgastasse que perdesse a beleza...

MITOLOGIA A BELA PSIQUÊ

Os Quatro Trabalhos de Psiquê

Os grãos: A princesa foi colocada num quarto onde uma montanha de grãos de diversos tipos tinha sido misturada. Psiquê devia separá-los, conforme cada espécie, no espaço de uma noite. A jovem começou a trabalhar, mas, mal fizera alguns montículos e adormece extenuada. Durante seu sono, surgem milhares de formigas que, grão a grão, os separam do monte e os reúnem consoante sua categoria. Ao acordar, Psiquê constata que a tarefa fora cumprida dentro do prazo.

A lã de ouro: Afrodite pediu, então, que a moça lhe trouxesse a lã de ouro do velocino de ouro. Após longa jornada, Psiquê encontra os ferozes animais, que não deixavam que deles se aproximassem. Uma voz surge de juncos num rio e a aconselha: ela deve procurar um espinheiro, junto a onde os carneiros vão beber, e nas pontas dos espículos recolher toda a lã que ficara presa. Cumprindo o ditame, Psiquê realiza a tarefa, enfurecendo a deusa.

Água da nascente: Afrodite então lhe pede um pouco da suja água da nascente do Rio Estige. Mas a nova tarefa logo se revela impossível: o Estige nascia de uma alta montanha tão íngreme, que era impossível escalar. Levando um frasco numa das mãos, a princesa queda-se ante a escarpa que se erguia à sua frente, quando as águias de Zeus surgem, tomando-lhe o frasco, voam com ela até o alto, enchendo-o. O trabalho, mais uma vez, foi realizado.

Beleza de Perséfone: Afrodite percebeu que teria de usar de meios mais poderosos. Inventando que tinha perdido um pouco de sua beleza por cuidar do ferimento de Eros, pede a Psiquê que, no Reino dos Mortos (o País de Hades, também chamado de Campos Elísios ou Érebo), pedisse à sua rainha, Perséfone, um pouco de sua beleza. A deusa estava certa de que ela não voltaria viva. Mais uma vez, Afrodite se engana. Psiquê convece Perséfone a encher uma caixa com a sua beleza para Afrodite.

Psiquê está indo de volta a Afrodite, quando pensa que sua beleza havia se desgastado depois de tantos trabalhos, não resiste e resolve abrir a caixa. Cai em sono profundo, Eros já curado de sua queimadura vai ao socorro de sua amada, põe de volta o conteúdo para a caixa, desperta Psiquê e ordena-lhe que entregue a caixa à mãe dele.

Enquanto Psiquê entrega a caixa a Afrodite, Eros vai a Zeus e suplica que advogue em sua causa. Zeus concede esse pedido e posteriormente consegue a concordância de Afrodite. Hermes leva Psiquê à Assembleia celestial e ela é tornada imortal. Finalmente, Psiquê ficou unida a Eros e mais tarde tiveram uma filha, cujo nome foi Prazer.

Em grego "psiquê" significa tanto "borboleta" como "alma". Uma alegoria à imortalidade da alma, como a borboleta que depois de uma vida rastejante como lagarta, flutua na brisa do dia e torna-se um belo aspecto da primavera. É considerada a alma humana purificada pelos sofrimentos e preparada para gozar a pura e verdadeira felicidade.

Essa Clarice e a galinha de domingo

Vida de Galinha... (Clarice Lispector)

(Da obra "Laços de Família")


Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.

Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.

Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.

Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.

Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se pode­ria contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.

Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, pare­cia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:

— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:

— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!

— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.

Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.

Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.

Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos...

Lendas do folclore

FOLCLORE

22 de agosto: Dia do Folclore

Bumba-meu-boi

O folclore é a tradição e usos populares, constituído pelos costumes e tradições transmitidos de geração em geração. 

Todos os povos possuem suas tradições, crenças e superstições, que se transmitem através das tradições, lendas, contos, provérbios, canções, danças, artesanato, jogos, religiosidade, brincadeiras infantis, mitos, idiomas e dialetos característicos, adivinhações, festas e outras atividades culturais que nasceram e se desenvolveram com o povo.

A UNESCO declara que folclore é sinônimo de cultura popular e representa a identidade social de uma comunidade através de suas criações culturais, coletivas ou individuais, e é também uma parte essencial da cultura de cada nação.

Deve-se lembrar que o folclore não é um conhecimento cristalizado, embora se enraíze em tradições que podem ter grande antiguidade, mas transforma-se no contato entre culturas distintas, nas migrações, e através dos meios de comunicação - onde se inclui recentemente a internet.

Parte do trabalho cultural da UNESCO é orientar as comunidades no sentido de bem administrar sua herança folclórica, sabendo que o progresso e as mudanças que ele provoca podem tanto enriquecer uma cultura como destruí-la para sempre.

Irmãos Grimm
O interesse pelo folclore nasceu entre o fim do século XVIII e o início do século XIX, quando estudiosos como os Irmãos Grimm e Herder iniciaram pesquisas sobre a poesia tradicional na Alemanha e "descobriu-se" a cultura popular como oposta à cultura erudita cultivada pelas elites e pelas instituições oficiais. Logo esse interesse se espalhou por outros países e se ampliou para o estudo de outras formas literárias, músicas, práticas religiosas e outros fatos chamados na época de "antiguidades populares". Neste início de sistematização os pesquisadores procuravam abordar a cultura popular através de métodos aplicados ao estudo da cultura erudita.

O termo folclore (folklore) é um neologismo que foi criado em 1846 pelo arqueólogo Ambrose Merton - pseudônimo de William John Thoms - e usado em uma carta endereçada à revista The Athenaeum, de Londres, onde os vocábulos da língua inglesa folk e lore (povo e saber) foram unidos, passando a ter o significado de saber tradicional de um povo. Esse termo passou a ser utilizado então para se referir às tradições, costumes e superstições das classes populares. Posteriormente, o termo passou a designar toda a cultura nascida principalmente nessas classes, dando ao folclore o status de história não escrita de um povo. Mesmo que o avanço da ciência e da tecnologia tenha levado ao descrédito muitas dessas tradições populares, a influência do pensamento positivista do século XIX contribuiu para dignificá-las, entendendo-as como elos em uma cadeia ininterrupta de saberes que deveria ser compreendida para se entender a sociedade moderna. Assim, com a conscientização de que a cultura popular poderia desaparecer devido ao novo modo de vida urbano, seu estudo se generalizou, ao mesmo tempo em que ela passou a ser usada como elemento principal em obras artísticas, despertando o sentimento nacionalista dos povos.

Depois de iniciar e frutificar na Europa, o estudo do folclore se estendeu ao Novo Mundo, chegando ao Brasil na segunda metade do século XIX através dos precursores Celso de Magalhães e Sílvio Romero, e aos Estados Unidos, onde William Wells Newell, Mark Twain, Rutherford Hayes e um grupo de outros eruditos e interessados fundaram em 1888 a American Folklore Society, que de imediato iniciou a publicação de um jornal que continua em atividade até hoje, o Journal of American Folklore. A contribuição dos folcloristas norte-americanos foi especialmente importante porque desde logo suas pesquisas foram apoiadas pelas universidades e adquiriram autonomia, definindo novas fronteiras metodológicas e lançando as bases para a fundação do folclorismo como uma nova especialidade científica, paralela à Antropologia.

Atualmente o folclorismo está bem estabelecido e é reconhecido como uma ciência, a ponto de tornar seu objeto, a cultura popular ou folclore, instrumento de educação nas escolas e um bem protegido genericamente pela UNESCO e especificamente por muitos países, que inseriram muitos de seus elementos constituintes em seus elencos de bens de patrimônio histórico e artístico a serem protegidos e fomentados.

Considera-se hoje o folclorismo um ramo das Ciências Sociais e Humanas, e seu estudo deve ser feito de acordo com a metodologia própria dessas ciências. Como parte da cultura de uma nação, o folclore deve ter o mesmo direito de acesso aos incentivos públicos e privados concedidos às outras manifestações culturais e científicas. Segundo Von Gennep, "o folclore não é, como se pensa, uma simples coleção de fatos disparatados e mais ou menos curiosos e divertidos; é uma ciência sintética que se ocupa especialmente dos camponeses e da vida rural e daquilo que ainda subsiste de tradicional nos meios industriais e urbanos. O folclore liga-se, assim, à economia política, à história das instituições, à do direito, à da arte, à tecnologia, etc, sem entretanto confundir-se com estas disciplinas que estudam os fatos em si mesmos de preferência à sua reação sobre os meios nos quais evoluem". 

Apesar de existir uma metodologia específica para o estudo contemporâneo do folclore, já existe a consciência de que o impacto dos novos meios de comunicação sobre as culturas, populares ou eruditas, está a exigir uma reformulação nos conceitos e sistemas de análise. Já não são raros os elementos do povo que usam gravadores, câmeras de vídeo, internet ou outros meios de alta tecnologia para o registro e difusão das manifestações folclóricas, tornando a delimitação do campo de estudo e a caracterização do fato folclórico cada vez mais difíceis. Roberto Benjamin, presidente da Comissão Nacional de Folclore do Brasil em 2001, declarou que "um outro processo a merecer atenção é o da espetaculização das manifestações folclóricas pela pressão dos meios de comunicação de massa e do turismo. Algumas das manifestações tradicionais guardam a natureza de espetáculos, que têm sido levados à exacerbação, convertendo-se em produto da cultura de massas. O exemplo mais evidente é o do boi-bumbá de Parintins. Preocupante, porém, é o caso de manifestações de natureza ritual, reservadas aos membros de comunidades religiosas, que por seu exotismo estão sendo cooptadas para converter-se em eventos de massa. É o caso das panelas-de-Iemanjá, convertidas em festivais para turistas. Diante desse quadro, torna-se necessária uma nova postura liberada dos preconceitos etnocêntricos, a reciclagem das técnicas de pesquisa em trabalho interdisciplinar com a incorporação das contribuições renovadas das ciências humanas e das ciências da linguagem, o uso de novas tecnologias e equipamentos disponíveis".

Câmara Cascudo Eis o Homem do Folclore

CONTOS TRADICIONAIS DO BRASIL


- Luís da Câmara Cascudo - 

(publicado em 1967, pela Coleção Brasileira de Ouro)


SUMÁRIO: 

PREFÁCIO
I. CONTOS DE ENCANTAMENTO 
1. O fiel Dom José 
2. Os compadres corcundas
3. A Princesa de Bambuluá
4. Bicho de palha
5. O veado de plumas 
6. O príncipe Lagartão
7. A princesa Gia
8. Almofadinha de ouro
9. Maria Gomes
10. O marido da Mãe-d'Água
11. O papagaio real
12. O filho da burra
13. O espelho mágico 
14. Os três companheiros
15. A banda da coroa
16. A princesa Serpente
17. O peixinho encantado
18. Os sete sapatos da princesa
19. A rainha e as irmãs
20. A princesa sisuda
21. A princesa e o gigante
22. Couro de piolho
23. Chapelinho vermelho
24. A bela e a fera
25. A moura torta
26. Pedro, José e João

II. CONTOS DE EXEMPLO
27. Maria de Oliveira
28. A menina de brincos de ouro
29. Quirino, vaqueiro do rei
30. O bem com o bem se paga
31. Os quatro ladrões
32. O chapim do rei
33. A história do papagaio
34. O velho ambicioso
35. O mendico rico
36. Mata-sete
37. As três velhas
38. O conde-pastor
39. Joãozinho e Maria
40. O pequeno polegar
41. Seis aventuras de Pedro Malazarte
42. O boi Leição 

III. CONTOS DE ANIMAIS
43. O sapo e o coelho
44. A raposa e o cancão
45. O touro e o homem
46. Decreto libertador
47. O cágado e o teiú 
48. O sapo com medo d'água
49. O gato e a raposa
50. A raposa e o timbu
51. A raposa furta e a onça paga
52. A preguiça
53. A rolinha e a raposa
54. A onça e o bode
55. O bicho-folharal 
56. O macaco e a negrinha de cera
57. A aranha caranguejeira e o quibungo 

 IV. FACÉCIAS
58. O caboclo, o padre e o estudante
59. A velha amorosa 
60. A gulosa disfarçada 
61. A roupa do rei
62. Adivinha, adivinhão!
63. O homem que pôs um ovo
64. As irmãs tatas
65. Mostrando as prendas
66. As três favas mágicas
67. O menino sabido e o padre
68. O caboclo e o sol
69. O conselho do doutor Doido
70. O menino e o burrinho
71. A mulher do piolho

V. CONTOS RELIGIOSOS
72. Quem tudo quer, tudo perde
73. A moça e a vela
74. Viva Deus e ninguém mais!
75. Os rins da ovelha
76. Como a aranha salvou o Menino Jesus
77. Felicidade é sorte
78. A mãe de São Pedro
79. Uma lição do rei Salomão

VI. CONTOS ETIOLÓGICOS
80. Por que o negro é preto
81. A causa das secas no Ceará
82. Cantador de modinhas
83. A maraçapeba
84. A festa no céu
85. A goela e o rabo da baleia
86. Por que o cachorro é inimigo de gato e rato

VII. DEMÔNIO LOGRADO
87. Toca por pauta
88. O afilhado do diabo
89. As perguntas de Dom Lobo
90. Audiência do capeta

VIII. CONTOS DE ADIVINHAÇÃO
91. O filho feito sem pecado
92. Frei João-Sem-Cuidados
93. A princesa adivinhona

IX. NATUREZA DENUNCIANTE
94. As testemunhas de Valdivino 
95. A menina enterrada viva
96. Cantiga de menina enterrada viva

X. CONTOS ACUMULATIVOS
97. O menino e a avó gulosa
98. O macaco perdeu a banana

XI. CICLO DA MORTE
99. O compadre da Morte

XII. TRADIÇÃO
100. A música dos chifres ocos e perfurados

........................................................................................................

PREFÁCIO

Nenhuma ciência como o Folclore possui maior espaço de pesquisa e de aproximação humana. Ciência da psicologia coletiva, cultura do geral no homem, da tradição e do milênio na atualidade, do heróico no quotidiano, é uma verdadeira História Normal do Povo. 

De todos os materiais de estudo, o conto popular é justamente o mais amplo e mais expressivo. É, também, o menos examinado, reunido e divulgado. Para centenas de volumes de versos populares, possuímos apenas três ou quatro coleções de contos tradicionais. 

O valor do conto não é apenas emocional e delicioso, uma viagem de retorno ao país da infância. Nem apenas social, expondo a idéia de fraternidade universal, como ensinava Saintyves. Constitui, na verdade, elemento indispensável para ciências afins. Franz Boas, antropólogo, é um dos patronos da "American Folklore Society", e sem o Folclore não seria possível sua obra "The Mind of Primitive Man". Marret dedicou um volume inteiro para demonstrar as relações entre o Folclore e a Psicologia: "Psychology and Folklore" (Londres, 1920). Goerge Laurence Gomme já o fizera quanto à História: "Folklore and Historical Science" (Londres, 1908). E já em 1891 Andrew Lang declarava: "Se me perguntassem como e por que o Folclore difere da Antropologia, ficaria um pouco embaraçado para responder..."

Se ele (o Folclore) recolhe e estuda a produção anônima e coletiva (Van Gennep), é um dos altos testemunhos da atividade espiritual do povo, em sua forma espontânea, diária e regular. Ligado, um pouco confundido com a Etnografia, o Folclore ensina a conhecer o espírito, o trabalho, a tendência, o instinto, tudo quanto de habitual existe no homem. Ao lado da Literatura, do pensamento intelectual letrado, correm as águas paralelas, solitárias e poderosas, da memória e da imaginação popular. 

O conto é um vértice de ângulo dessa memória e dessa imaginação. A memória conserva os traços gerais, esquematizadores, o arcabouço do edifício. A imaginação modifica, ampliando pela assimilação, enxertias ou abandonos de pormenores, certos aspectos da narrativa. O princípio e o fim das estórias são as partes mais deformadas na literatura oral. 

O conto popular revela informação histórica, etnográfica, sociológica, jurídica, social. É um documento vivo, denunciando costumes, idéias, mentalidades, decisões e julgamentos. 

Para todos nós, é o primeiro leite intelectual. Os primeiros heróis, as primeiras cismas, os primeiros sonhos, os primeiros movimentos de solidariedade, amor, ódio, compaixão, nos vêm com as estórias fabulosas, ouvidas na infância. 

Dos sessenta e dois cursos dados em vinte e cinco universidades norte-americanas sobre Folclore, cinco são dedicados exclusivamente ao conto popular, ao folk-tale. A Universidade da Califórnia, a Universidade de Indiana, a Universidade de Michigan, a Universidade de Novo México e a Universidade da Carolina do Norte, mantêm programas de estudo sobre as origens, desenvolvimento, confrontos, influências e classificação dos contos populares. 

As características do conto popular são:

1. Antiguidade
2. Anonimato
3. Divulgação
4. Persistência

É preciso que o conto seja velho na memória do povo, anônimo em sua autoria, divulgado em seu conhecimento e persistente nos repertórios orais.

De sua antiguidade, atestam detalhes de ambiente: armas, frases, hábitos desaparecidos. Raro é o conto, por exemplo, que menciona armas-de-fogo. Falam sempre de carruagem, espadas, transportes a cavalo, reclusão feminina, autoridade paterna, absolutismo real. 

Os contos aludem ao cabelo solto das donzelas, às crianças enjeitadas que o achador envolvia na capa, ao rei triste que só vestia branco, à coabitação prévia antes da cerimônia nupcial. Foram "usus", regras da vida diária, legalizados em sua ancianidade histórica. 

O professor Aurélio M. Espinosa, da Stanford University, na Califórnia, EUA, resumindo, na introdução do seu "Cuentos Populares Españoles" (Stanford, 1923), o trabalho dos folcloristas modernos, disse: 

"Estos envestigadores estudian los cuentos populares primeramente como cuentos, comparándolos con los de todas las partes del mundo, buscando su origen y tratando de descobrir su verdadera genealogia y evolución a través de la historia de los pueblos, y no dejan de estudiar, en cuanto les es posible, las ideas, costumbres primitivas y cultura de los pueblos, primitivos y modernos, de donde los cuentos procedem. Un tema tradicional se estudia a través de la literatura escrita y oral, se tiene sempre en cuenta la historia verdadera de los pueblos y el contato de unos con otros; se estudian todas la versiones que se pueden reunir de un cuento o de una tradición; se examina su parentesco; se estudia en fin a base del estado de cultura del pueblo de su procedencia y se determina su origen, su historia y su difusión. Los últimos resultados de estos estudios puden servir no sólo para completar las investigaciones de los cuentos populares como cuentos propriamente dichos, sino que también para buscar materiales útiles para las ciencias afines, en particular la antropologia, la psicologia, la religión y la historia". 

Esses estudos, entre nós, dispersam-se entre o "amadorismo" e a industrialização literária dos temas folclóricos. João Ribeiro, em 1919, escrevia, serenamente: "Investigar as origens e a formação das estórias populares, acompanhá-las em suas migrações aonde elas vão como domésticos na companhia das gentes e dos povos, não é ainda uma preocupação que mereça estímulos. Tudo, entre nós, que não é dinheiro, é tolice e inutilidade. Bem o sei..." (O Folk-lore, Rio: 1919, p. 254). 

A reação amanhece, lentamente. Um dia, interessará... 

Sobre a origem dos contos, neste volume, não ousei adiantar palavra. Nem sua interpretação. Caberá a um volume especial quando, reunidos em maior número, abrangendo variantes, possa o material constituir uma área mais ampla para confronto e dedução. 

Dar-lhes o título de "tradicionais" pareceu-me bastante lógico, porque esses contos estão vivos, trazidos, de geração em geração, na oralidade popular. Alguns, retirados de coleções impressas, com as precisas indicações bibliográficas, pertencem fielmente à mesma estirpe. Na colheita das estórias, fixei, não o local do nascimento do narrador, mas a cidade em que maior número de anos residiu, onde passou a infância, onde ouviu e registrou na memória os contos que transmitiu. A linguagem dos narradores foi respeitada noventa por  cento. Apenas não julguei indispensável grafar "muié", "prinspo", "prinspa", "timive", "terrive", etc. Conservei a coloração do vocabulário individual, as imagens, perífrases, intercorrências. Impossível, porém, será dar a idéia do movimento, o timbre, a representação personalizadora das figuras evocadas, instintivamente feitas pelo narrador ao nos contar o "causo". Os colaboradores tinham os níveis culturais mais diversos. Foram desde a senhora ao ginasiano, da cozinheira à ama analfabeta, da velha mãe-de-criação ao jardineiro, de pessoas com doze até outras com setenta e cinco anos. 

Dividi os cem contos em doze secções. Minha divisão atende aos "motivos" do conto, no critério de uma tentativa de sistematização. As centenas de milhares de contos que existem são combinações indefinidas desses motivos essenciais, ambientes, pormenores típicos, situações psicológicas. Os contos variam infinitamente, mas os fios são os mesmos. A 'ciência' popular vai dispondo-os diferentemente. E são incontáveis, e com a ilusão da originalidade. 

O conto, tanto mais tradicional, conhecido  e querido numa região, mais universal deve ser nos seus elementos constitutivos. Um tema restritamente local não se divulga nem interessa. 

Aqui apresento quanto pude reunir da tradição oral, dos contos velhos que encantaram as gerações brasileiras. Possa essa coleção animar o estudo do Folclore, numa unidade de trabalho, tenacidade e alegria cordial. 

"E como encontraram, 
Tal qual encontrei; 
Assim me contaram, 
Assim vos contei..."

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(Iremos publicando, a cada semana, uma parte dessa encantadora obra, até concluí-la. Bom proveito!)