Aos treze anos, por hábito frequentava a humilde casa de Vicentina.
Um barraquinho mal acabado, cheio de buracos por todos os lados, chão batido, uma cama à direita da porta feita com galhos e um colchão de palha seca, que ao sentar produzia um som engraçado, um fogãozinho de lenha a sua esquerda, o total de sua residência não passava de uns nove metros quadrados.
Dois caixotes de madeira, desses que transportam legumes, guardados alí, seus útensilios domésticos surrados pelo tempo de uso, encardidos pelo carvão, acima do fogão um arame esticado, onde defumava linguiças, nessa época Vicentina era viúva e vivia só, a simplicidade desse lugar nunca me afastou.
Vicentina, nome esse que escolhera para ser chamada, pois o seu verdadeiro ninguém pronunciava corretamente, nascida em uma tribo...Índia por natureza.
Apaixonou-se por um branco, e afastou-se de seu povo, consigo trazia seus hábitos.
Nessa época deveria ter entre sessenta a setenta anos, minhonzina, pele judiada, totalmente enrrugada, olhos pequenos e puxados, cabelos longos, finos, poucos e grisalhos, descalça o tempo todo.
De grande humildade, mas com muita sabedoria, Vicentina fazia questão de mostrar seus poucos dentes, sempre a sorrir!
Gargalhadas eram contidas, e timidamente abaixava sua cabeça quando sorria em excesso, lavava suas roupas em uma nascente ao lado de minha casa, de cócoras esfregava suas poucas peças, e ao mesmo tempo cantarolava cantigas de seu povo.
Entre tantas histórias que me contava, essa realmente marcou a minha vida...Dizia:
Todos os meses nós mulheres precisamos de alguns dias para nos purificar, mas atenção, nesses dias não deverá olhar para o arco-íris, pois se assim o fizer ficará gravida dele.
Hoje tenho prazer em desfrutar da linda ímagem que se forma algumas vezes depois da chuva, mas sempre que isso acontece é ímpossível não lembrar desse absurdo que um dia acreditei e respeitei devido as palavras de uma sábia índia chamada Vicentina.
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