sábado, 23 de junho de 2012
E viva o Esporte: Joana Banana
Joana Banana
“– Olha lá, pessoal! Chegou o caminhão de mudança! Nossa, como está carregado! Papagaio, passarinho, vaso de flor, cama, sofá, armário, fogão, cachorro, televisão... Ué... Mas cadê as pessoas?
– Calma,gente. Olhe, aquele deve ser o pai. Aquela, a mãe. E agora...
Agora deve ser, a nossa... a nossa camisa onze!
– Puxa, a gente custou tanto pra formar aquele timaço e, de repente, o Zito vem e diz que vai se mudar. Por essa a gente não esperava, né? (...)
– Xi, pelo jeito esses pais não têm filhos! Eu nem estou ouvindo barulho de criança! Só faltava essa... A casa desocupada um tempão e ainda vem uma família sem ponta-esquerda?
– Nem que seja um jogador de defesa, nem que seja goleiro, caramba!
O que importa é que venha um jogador pro nosso time! Eram dez carinhas cheias de expectativa, era um time que havia ficado sem o Zito e que agora esperava desesperadamente pelo seu substituto. (...)
O ESPELUNCA FUTEBOL CLUBE precisava urgentemente de um craque pra poder funcionar e brilhar!
– É pelo jeito não tem criança mesmo. Já desceu pai, desceu mãe, gato, cachorro... (...) E o time desfalcado já ia se retirando, desanimado, desolado, quando uma voz de mulher irrompeu detrás do caminhão:
– Manoel do céu! Cadê a Jo...Jo...Os dez pares de pés pararam no mesmo instante!
– Peraí, pessoal! A voz era da mãe. E a voz da mãe falou Jo... Jo...
Outra vez a voz da mãe, pra aumentar ainda mais a expectativa das crianças:
- Cadê a Jo... Jo...Uaaaaaaaatchim! Virgem Maria, que a gripe já me pegou! Bem que diziam que o clima desta cidade era um horror pra saúde!
A expectativa havia atingido o grau máximo na cabecinha de cada um! O ESPELUNCA já estava em ação, dando um gol de cabeça num lance primoroso de João, que havia rompido uma barreira de cinco adversários desde o início da grande área, driblando dói, dando um chapéu em outro...
É... na cabeça de cada um deles uma jogada diferente se passava naquele momento.
Mas outra vez a voz, e desta vez sem a interrupção de espirros:
– Cadê a Joana, Manoel? Cadê essa menina que não desce? Será que ficou dormindo lá no caminhão?
Sei não mulher. Só dando uns gritos aí pra ver de onde ela responde.
Joana! Joaaaaaaana! Acorde, menina! A gente já chegou na casa nova!
Não! Por essa a garotada não esperava! JOANA???
– O quêêêêêê? JOANA? Joana? Joana Banana, Joana Banana, Joana Banana, Banana, Banana, Banana!
E a pobre Joana desceu do caminhão, esfregando os olhos, sem entender nada de nada...”
PORTO, Cristina. Joana Banana. São Paulo: Melhoramentos, 1985.
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