O improviso e a interação ainda são as principais características do radio.
Luiz Gustavo Pacete*
O “IV Seminário Internacional de Radiojornalismo”, ( Curitiba-PR, 10/2009), realizado por Imprensa Editorial. Dentre os participantes, esteve o radialista Milton Blay que, desde 1979, vive e trabalha em Paris, tendo passagens pela Folha de S.Paulo, Rádio Eldorado e também pela Rádio França Internacional.
No evento, Blay, por meio de vídeo-conferência, comentará sobre a capacidade do rádio de aproximar culturas, acontecimentos e pessoas de qualquer lugar do mundo.
Em entrevista ao Portal IMPRENSA, o jornalista falou sobre a importância do rádio na atuação dos correspondentes internacionais.
Portal IMPRENSA – A possibilidade de noticiar algo em tempo real dá ao correspondente internacional mais liberdade e eficiência para atuar no rádio?
Milton Blay – A instantaneidade, que é sem duvida uma das características e vantagens do radio, é extremamente excitante para um jornalista dar uma informação em primeira mão. O problema é que a notícia sai crua, sem verificação, sem perspectiva. O correspondente internacional, como qualquer outro jornalista, é vitima da obrigação do furo, da briga para ser o primeiro. Mesmo porque, se ele não for o primeiro, cinco minutos depois a noticia já terá dado a volta ao mundo. É o reino da quantidade e do imediatismo em detrimento da qualidade. O mundo da reportagem deu lugar ao Twitter.
IMPRENSA – O que antes era regional agora é universal, por meio da internet, quais vantagens você vê nisso?
Blay – Dizer que o mundo se globalizou é de uma obviedade ululante. O planeta ficou pequeno. No entanto, ainda não nos demos completamente desa dimensão. No meu caso, o maior desafio é trazer o mundo, explicado e colocado em perspectiva, para dentro da casa ou do carro do ouvinte. Até há pouco, o Brasil se sentia – e agia – como se fosse uma ilha. As coisas estão mudando.
IMPRENSA – O rádio ainda consegue manter o improviso e como isso ajuda na hora de conversar com o apresentador do programa?
Blay - O improviso e a interação, como a mobilidade, são algumas das principais características do rádio, que fazem dele uma mídia única. Esta é a grande força do rádio, o único veiculo em que você conversa com seus interlocutores, âncora e ouvinte. Muitas vezes eu me sinto como se estivesse no sofá de casa, batendo papo, dialogando com os meus interlocutores. Os doze mil quilômetros que me separam dos estúdios da Rede Bandeirantes deixam pura e simplesmente de existir. E é essa proximidade que torna o trabalho compensador. Os ouvintes são muito mais atentos do que se poderia imaginar, sempre prontos a assinalar um erro, um deslize, fazer elogios e sugestões.
IMPRENSA – Pode descrever alguns furos, ou coberturas marcantes que você fez em Paris?
Blay – A minha primeira grande cobertura como correspondente aconteceu logo apos a chegada à França, palco de uma enorme agitação em razão da presença, na pequena cidade de Neauphle-le-Chateau, a meia hora de Paris, do aiatola Khomeini. Ele dirigia, a partir dali, a revolução islâmica em curso no Irã, para derrubar o xá Reza Pahlavi. Todo dia havia um “point-presse”, uma espécie de mini-coletiva de imprensa, quase sempre dada por um assessor “civil” do líder religioso, que prometiam a aplicação socialista do Alcorão. Nos anos 90, tive experiências importantes como a morte de Jean Charles de Menezes; e sobretudo a queda do muro de Berlim, que marcou o fim da Cortina de Ferro e mudou o mundo.
IMPRENSA – O que vai acontecer com o rádio?
Blay - Eu ouvi quinhentas vezes a profecia anunciando o fim do radio, mas ele não vai morrer, o casamento entre radio e internet evoluirá e dele nascerão seres híbridos – a webradio já é uma realidade; a escuta também passara por um processo de adaptação; a única certeza é que a mídia radio continuara existindo. Alias, de todos os veículos, o radio foi aquele que menos sofreu com a chegada das novas tecnologias virtuais, pois nenhuma se adapta tanto às condições de vida atuais. Enquanto os carros e os congestionamentos existirem o radio será insubstituível.
Você acompanha a cobertura do IV Seminário de Internacional de Radiojornalismo via Twitter (http://twitter.com/seminario_radio) em tempo real e pelas matérias publicadas no Portal Imprensa durante a semana. Para mais informações acesse: http://portalimprensa.uol.com.br/seminarioderadio/informacoes.asp
*/Redação Portal IMPRENSA (visitado em 05.12.2010)
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