1) AVALIAÇÃO E MUDANÇAS INSTITUCIONAIS
E SOCIAIS
No processo de mudança, as manifestações dos
educadores em relação à avaliação não se limitam a ela; muito pelo contrario,
remetem a outros aspectos, inclusive a organização escolar e social. É
importante percebermos este contexto maior e termos dele uma leitura crítica.
A mudança avaliativa não pode ficar restrita à
mudança de mentalidade e práticas dos professores; embora isto seja
absolutamente fundamental, precisa ser articulada com mudanças estruturais da
própria escola, do sistema educacional e da sociedade, sob pena de se
comprometer qualquer esforço na direção de uma nova concepção dos atores
sociais.
A transformação na avaliação não se restringe a um
esforço isolado do professor, mas é fruto de um trabalho coletivo; por outro
lado, objetiva-se em estruturas: construção de novas formas de organização,
rotinas, rituais, regras etc., a fim de que não seja preciso, a cada instante,
a tomada de consciência e a boa vontade de cada um.
As estruturas sintetizam o desejo do grupo num
determinado momento, e certo que devemos estar atentos ao risco de se
fossilizarem; portanto, pedem abertura à superação, mas nem por isso são
dispensáveis; ao contrário, é a sua explicação e concretização que fornecerá o
patamar para novas mudanças.
A instituição deve ter uma forma de organização que
seja inclusiva, que busque, de todas as maneiras, romper com qualquer
subterfúgio que leve à exclusão. Este desejo, este comprometimento dos
educadores, todavia, deve se traduzir em práticas concretas, em iniciativas,
negociações, regras, leis, ritos, vale dizer, numa nova cultura institucional.
O envolvimento da escola como um todo (também as
estruturas administrativas e comunitárias) é condição para a consolidação da
mudança da avaliação.Uma queixa recorrente entre os educadores diz respeito à
carga horária das disciplinas. Muitas vezes, ouve-se a pergunta: “Como posso
conhecer melhor os alunos, se pouco convivo com eles?" Ora, antes de ser
uma questão de avaliação da aprendizagem, trata-se de avaliação curricular.
O que se espera é a adequação da carga horária à
proposta de ensino: para quem não sabe o que quer, solicitar aumento de aulas
semanais sugere mais oportunismo corporativo do que zelo pedagógico.
O individualismo está muito enraizado na sociedade
e, em particular, no professor: são anos e anos de trabalho isolado; cada um
busca a sua saída. Apesar de a participação individual ser fundamental, não
podemos ficar limitados a isto.
Uma coisa é um professor fazer algo inovador; isto
tem seu valor. Mas quando a escola assume aquilo enquanto proposta coletiva, o
significado é bem diferente em termos de processo de mudança.
Reside aí a importância do Projeto político
pedagógico, que é o piano global da instituição. É entendido como a
sistematização, nunca definitiva, de um processo de planejamento participativo,
que se aperfeiçoa e se objetiva na caminhada, que define claramente o tipo de
ação educativa que se quer realizar.
Trata-se de um importante caminho para a construção
da identidade da escola. É um instrumento teórico-metodológico de transformação
da realidade. Visa ajudar a enfrentar os desafios cotidianos, só que de uma
forma refletida, consciente, sistematizada, orgânica, científica, e, o que é
essencial, participativa.
É um elemento de organização e integração da
atividade prática da instituição neste processo de transformação, na medida em
que expressa o compromisso do grupo com uma caminhada. Tornar vivo o projeto,
não deixar que fique engavetado, fazê-lo advir, incorporá-lo na prática, não é
tarefa especifica de um ou outro membro da instituição, e sim de todos que o
construíram.
O processo de elaboração participativa do projeto é
um espaço privilegiado de construção do coletivo escolar. Uma das maiores
tarefas colocadas para a sociedade no seu conjunto é conseguir articular uma
efetiva visão de futuro positiva para a juventude.
O ser humano gosta de desafios; a tarefa que está
posta é a de superar sua formulação alienada - ser melhor, conseguir nota,
passar de ano - e apontar novas tarefas para os alunos: aprender mais e melhor;
não deixar ninguém pelo caminho, avançar juntos; refletir, desfrutar o prazer
de conhecer; pensar com a própria cabeça; descobrir novas possibilidades de
organização do real, ser capaz de intervir, abrir novos horizontes dentro e
fora da escola.
Concluímos, enfatizando a importância absolutamente
essencial da participação do professor no processo de mudança na condição de
sujeito (e não de objeto), caminhando de uma prática imitativa (cultura da
reprovação) ou reativa (mera aprovação) a práxis transformadora (ensino de
qualidade democrática para todos)!
Fonte: VASCONCELLOS, Celso dos
Santos. Avaliação da Aprendizagem - Práticas de Mudança: por uma práxis
transformadora. São Paulo: Libertad, 2003.
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