AVALIAÇÃO E VÍNCULO PEDAGÓGICO
Historicamente, a avaliação tendeu a se
automatizar, a se tornar um fim em si mesma. Corrigir esta distorção implica
reconhecer que a avaliação da aprendizagem se dá no campo pedagógico que, antes
de mais nada, precisa ser resgatado, configurado e valorizado.
Se a finalidade da escola pode ser assumida como a
educação através do ensino, ao abordarmos o vínculo pedagógico, estamos diante
do que é essencial na tarefa educativa escolar, sua atividade-fim. Todavia,
esta finalidade não vem se realizando a contento, de tal forma que, na
atualidade, o problema central da escola, do ponto de vista político, e a não
totalidade dos alunos que por ela passa.
Já da ótica pedagógica, compreendemos que o
problema nuclear reside na proposta de trabalho equivocada. O grande desafio
pedagógico em sala de aula é a questão da formação humana através do trabalho
com o conhecimento baseado no relacionamento interpessoal e na organização da
coletividade.
Quando nos referimos ao vínculo pedagógico,
queremos abarcar o conjunto do trabalho que o docente desencadeia em sala de
aula e, particularmente, seu elemento fulcral que é a gestão mesma do processo
de conhecimento (necessidades, objetivos, conteúdos, metodologia,
relacionamentos, recursos, interfaces, além da avaliação).
O trabalho de construção do conhecimento na escola
está baseado no trabalho de gerações passadas e presentes; não realizar uma
atividade significativa traz como consequência contribuir para a reprodução do
sistema de alienação da organização social, na medida em que colabora para a
formação de sujeitos passivos, acríticos.
A avaliação deveria ser uma mediação para a
qualificação da prática escolar. No entanto, não é isto que vem ocorrendo, dado
que, quando surgem dificuldades em sala, procura-se resolver pela pressão da
nota, e as questões pedagógicas fundamentais não são devidamente enfocadas. A
existência da reprovação desde as séries iniciais introduz a alienação na
relação pedagógica: ao invés de o professor investir na mobilização do aluno
para o estudo, para a proposta de trabalho, passa a usar a avaliação como arma.
No fundo, a questão seria muito simples: o
professor resgatar o seu papel essencial que é ensinar. Embora isto pareça
elementar, com frequência, as preocupações maiores do professor como analisaram
acima, não está sendo ensinar, mas “sobreviver”, seja pela sedução, seja pelo
controle.
É necessário reconhecer que, no contexto da escola
brasileira contemporânea, está muito difícil ser professor. Neste quadro, a
avaliação tradicional tende a ser uma forma de alívio, uma vez que:-
Do ponto de vista subjetivo, canaliza a culpa para
alguém (aluno/família);- Do ponto de vista objetivo, das condições de trabalho
(controle disciplinar).Mas o que colocar no lugar da pressão da nota? Duas
perspectivas são fundamentais: o sentido para o estudo para o trabalho
pedagógico e a forma adequada de trabalho em sala de aula. Estes dois elementos
se combinam no processo pedagógico, de maneira que quando falta um, e o outro
está presente, há uma espécie de compensação, mas quando os dois estão em baixo
nível, o trabalho em sala fica quase impossível.
O que se vislumbra, pois, em termos de superação é
o poder de o professor estar centrado na proposta pedagógica, e não mais na
nota. Os educadores, que estão inovando a prática pedagógica, apontam como
forma de superação do vínculo alienado, o resgate da significação do estudo e
dos conteúdos, e a busca de uma metodologia participativa em sala, para que
eles não precisem da nota a fim de controlar os alunos, ganhar o aluno pela
proposta pedagógica e não pela "muleta" das ameaças.
Por meio de novas atividades, professores e alunos
redescobrem o gosto pelo conhecimento que vem da compreensão, do entendimento,
da percepção do aumento da capacidade de intervir no mundo. Assim, a avaliação
– como regulagem das aprendizagens – é tomada como base para reorientar a
organização do trabalho pedagógico (replanejamento).
O preparo adequado do curso, da segurança, firmeza,
é que permite o melhor aproveitamento. A atividade do professor numa
perspectiva dialética implica basicamente: conhecer a realidade, ter clareza de
objetivos e traçar mediações significativas, agir de acordo com o planejado e
avaliar sua prática (Methodos).
E a tarefa
fundamental é, a partir de um Projeto político Libertador, construir um vínculo
pedagógico coerente com o compromisso com a aprendizagem efetiva de todos os
alunos.
Fonte: VASCONCELLOS, Celso dos
Santos. Avaliação da Aprendizagem - Práticas de Mudança: por uma práxis
transformadora. São Paulo: Libertad, 2003.
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