AVALIAÇÃO COMO COMPROMISSO COM A APRENDIZAGEM DE TODOS -
POR UMA NOVA INTENCIONALIDADE
Avaliação, para assumir o caráter
transformador, antes de tudo deve estar comprometida com a aprendizagem da
totalidade dos alunos. Este é o seu sentido mais radical, é o que justifica sua
existência no processo educativo. A observação mais atenta aponta que as
mudanças na avaliação têm ocorrido, mas não no fundamental, que é a postura de
compromisso em superar as dificuldades percebidas.
A questão principal não é a
mudança de técnicas, mas é a mudança de paradigma, posicionamento, visão de
mundo e valores.Neste primeiro capítulo, estaremos refletindo sobre esta
mudança essencial no sentido da avaliação, analisada do ponto de vista de sua
tradução em práticas concretas na escola.
O que estará em pauta aqui é a
intencionalidade que o professor atribui à avaliação no seu cotidiano. Aprendemos
que o homem é um ser racional. Todavia, quando analisamos o conjunto de sua
obra, bate uma séria dúvida, face às enormes contradições por ele produzidas.
Sucede que, se olharmos com mais cuidado, percebemos que é racional, não
necessariamente no sentido do bom senso, do bem, do belo, mas por ter uma
razão, um porquê para sua ação.
A intencionalidade é a marca humana por
excelência; no longo processo filogenético, tornamo-nos homo sapiens porque
intencionados, porque projetamos, não nos conformamos com as condições dadas.
Notem que neste processo, naturalmente, a avaliação também teve um papel
decisivo.
Muitas têm sido as tentativas de
mudança da avaliação. No entanto, muda-se, muda-se, e não se consegue
transformar a prática. Onde estaria o núcleo do problema da avaliação?- No seu
conteúdo (abrangência?).- Na sua forma (exigência quantitativa?).- Na sua
intencionalidade (finalidade, objetivo?).- Nas suas relações (com a metodologia,
com as condições de trabaIho, com o sistema de ensino, com a condição de vida
dos alunos?).
O acompanhamento de processes de
mudança da avaliação em escolas e redes de ensino têm demonstrado o seguinte:1.
A mudança em outros aspectos da avaliação (conteúdo, forma, relações) sem a
mudança na sua intencionalidade não tem levado a alterações mais
substanciais.2. A mudança na intencionalidade da avaliação, mesmo sem maiores
mudanças em outros aspectos num primeiro momento, tem possibilitado avanços
significativos do trabalho.
Pode haver mudança no conteúdo e
na forma de avaliar, pode haver mudança na metodologia de trabalho em sala de
aula e até na estrutura da escola, e, no entanto, não se tocar no que é
decisivo: intervir na realidade a fim de transformar. Se não houver um
re-enfoque da própria intencionalidade da avaliação, de pouco adiantara.
A intencionalidade é o problema
nuclear da avaliação, portanto alguns cuidados devem ser reforçados:- não
tomá-la como absoluta, definitiva.- não reduzi-la a um campo por demais
particular ou especifico.- não confundi-la com a realidade.- não usá-la como
refugio dos conflitos, para encobrir as contradições da prática.- não deixar de
perceber seu enraizamento na realidade.
A concretização de uma nova
intencionalidade é, a nosso ver, o maior desafio contemporâneo da avaliação da
aprendizagem. Ao analisarmos as condições para a mudança da intencionalidade da
avaliação, encontramos muitos obstáculos; contudo, um dos maiores e a tradição
avaliativa já existente: há a assimilação, por parte do professor, de uma
verdadeira cultura da repetência, uma estranha indiferença para com a lógica
classificatória, bem como para com os elevadíssimos índices de reprovação e
evasão escolar.
No processo de mudança, visamos à
incorporação da nova intencionalidade; porém, não há como “garantir” em termos
absolutos, não há uma atividade que seja intrinsecamente emancipatória;
exige-se atenção, espírito crítico, reflexão o tempo todo. Contudo, a busca de
sua tradução em práticas concretas, coerentes com o princípio, é imprescindível
e ajuda o enraizamento da nova concepção nos sujeitos e, no limite, na própria
instituição.
É preciso ousar, investigar,
procurar caminhos para assegurar a aprendizagem. Existem soluções relativamente
simples, que estão no espaço da autonomia do professor e da escola (abertura a
novos possíveis!).A situação do professor, com muita frequência, está difícil;
mas se internamente se fecha a possibilidade, se já não acredita que o aluno
possa aprender, se já não tenta, com certeza ficará mais difícil ainda, tanto
para ele quanto para o aluno. Esperar pouco do outro é uma forma de profundo
desrespeito!
O professor não pode desistir do aluno! Todo
ser humano é capaz de aprender.
Fonte: VASCONCELLOS, Celso dos
Santos. Avaliação da Aprendizagem - Práticas de Mudança: por uma práxis
transformadora. São Paulo: Libertad, 2003.
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