AVALIAÇÃO
Mudança é
criar possibilidades: numa sociedade tão seletiva, num sistema educacional
marcado pelo autoritarismo, seria possível avaliar de outra forma num contexto
social assim contraditório e competitivo? A resposta a estas perguntas, antes
de ser uma questão lógica ou teórica, é histórica: objetivamente, "apesar
do sistema", ou seja, constatamos que os educadores estão fazendo. Como
veremos no decorrer deste trabalho, o que visamos não é simplesmente fazer uma
ou outra mudança, mas construir uma autêntica práxis transformadora.
A tarefa
que se coloca, a partir disso, aponta para três direções:- Fortalecimento:
valorizar as práticas inovadoras existentes para que não sejam efêmeras. -
Avanço: criar novas práticas. - Crítica: não baixar a guarda em relação à
presença e influência da avaliação tradicional.
No
cotidiano escolar, muitas vezes, nosso empenho se concentra na mudança das
idéias (nossas e dos colegas) a respeito da avaliação. Esta estratégia, embora
importante, é insuficiente se não atentarmos para as estruturas de percepção e
de pensamento: pode haver simples mudança de conteúdos num arcabouço
equivocado.
Nossa
grande preocupação é a mudança da prática do professor. Toda ação humana
consciente, toda prática é pautada por algum nível de reflexão. As idéias que
nos habitam - assim como a maneira como operamos com elas - têm conseqüências
práticas; a forma corno agimos sobre o mundo, seja o mundo educacional,
político ou econômico, é em parte determinada pela forma como o percebemos
(Apple, 1989:84).
Qualquer
inovação, antes de existir na realidade, configura-se na imaginação do sujeito.
Fica claro, pois, o desafio de sermos criativos para imaginar novas formas de
arranjo da prática educativa em geral, e da avaliativa em particular, e delas
tirarmos transformação, aliada à fruição e alegria.As formas de mediação que
traremos representam a sistematização de iniciativas que já vêm ocorrendo.
Nossa contribuição vai no sentido de:a)
Aprender com as práticas de mudança, procurar tirar lições e princípios;b)
Ajudar a socializar, valorizar, validar práticas;c) Criticar, superar
contradições;d) Explorar possibilidades ainda encobertas.O que está em pauta
não é a mera existência de um rol de sugestões ou opções de o que fazer.
O caminho
para se chegar a uma prática transformadora é bem mais complexo: é a criação de
um novo plano de ação do sujeito, que é fruto tanto da percepção de uma
necessidade quanto da clareza de uma finalidade (dialética necessidade, finalidade
e plano de ação).
O
problema não é apenas “ter o que fazer”, “saber” o que deve ser feito, e sim, interiorizar,
entrar no movimento conceitual e no movimento histórico da atividade educativa.
Por isto enfatizamos a questão do método de trabalho para o professor.
Para
mudar a avaliação, precisamos, obviamente, mudar seus elementos constituintes
(exemplo: conteúdo e forma). Contudo, embora necessário, isto não é suficiente,
uma vez que a prática avaliativa não depende apenas dela mesma.
Ora, no
caso da avaliação, a partir do trabalho de análise sobre o material empírico,
registrado dos discursos dos educadores e da observação da prática, nestas duas
classes - Avaliação e Relações - emergem seis grandes categorias:- Avaliação:
intencionalidade; forma; conteúdo. -Relações: prática pedagógica; instituição; sistema.
Isto
significa que a mudança da avaliação, para ser efetiva, deverá estar atenta a
estes seis vetores; para se criar uma nova ecologia avaliativa, um novo
ambiente cultural no campo da avaliação será preciso se dar conta, em alguma
medida, destas seis dimensões.
Fonte: VASCONCELLOS, Celso dos
Santos. Avaliação da Aprendizagem - Práticas de Mudança: por uma práxis
transformadora. São Paulo: Libertad, 2003.
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