Ele vivia e trabalhava em casa do meu tio Antonino, tipo casmurro, e tinha vindo antes da casa da sogra do tio, Dona Isolina. Lá ele cuidava de apanhar água, vender doces, rachar lenha e outros serviços. Um tipo alto magro, chapéu sempre na cabeça, calado e não sorria para ninguém.
De vez em quando ele sumia e não se dava notícia dele.Ficava as
Depois de muito tempo de sumiços, inventou-se uma história mistériosa a seu respeito e que marcou muito o resto de sua vida. Era difícil a creditar na potoca; contudo tinha gente que jurava por Deus e por todos os santos e em genuflexão que o tinha visto lá por detrás do cemitério numa sexta-feira de lua cheia, junto aos jumentos e todo de preto com um cajado enorme a correr pelos pástos atrás dos jumentos e uivava igual ao lobo e se embrenhava na mata detrás do cemitério onde se tinham enterrado os corpos dos mortos da epidemia de varíola de 1929.
Chico virou lobisomem!... A notícia se espalhou rapidamente pela cidade e assim ficou conhecido como tal. Nunca se importou com o apelido, parecia até gostar, nada falava nem ria, sempre calado meu amigo Chico Lobisomem.
As vezes me dava um doce ou balinha.
Ficou-se sabendo depois, que tinha uma mulher lá pelos lados do Ribeirão, onde se internava bebendo cachaça, e, quando a pinga acabava e o dinheiro, voltava para casa . Contudo não se conheceu a mulher e o local da casa misteriosa .
O Chico era boa pessoa e não tinha maldade.
Convivemos muito tempo e sempre me tratou bem, apesar de ser menino travesso.
Não era mudo, porém não conversava. Não me lembro de sua voz!
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