A crise da água e a sede de vida
por Marcelo Barros, do Brasil de Fato
No
dia 22, a Organização das Nações Unidas (ONU) celebra mais um dia
internacional da água. Em vários países, devido à urgência do problema,
as reflexões e eventos sobre este dia tomarão toda a semana. De fato,
estamos em situação de risco. O sistema de vida no planeta Terra está
ameaçado e a água se torna o bem mais precioso. Hoje, 1,1 bilhão de
pessoas já não têm acesso a água potável, e 2,4 bilhão de pessoas não
têm saneamento básico. Cada ano, seis milhões de pobres, dos quais
quatro milhões de crianças, morrem de enfermidades ligadas a águas
contaminadas. Até o ano 2025, conforme um estudo da ONU, este problema
afetará metade da humanidade.
Há diversos motivos para esta crise.
O planeta Terra tem 75% de sua superfície ocupada por oceanos, mas a
água doce representa apenas 2,5% deste total. No último século, a
população mundial aumentou muito e na maioria dos países a urbanização
se fez de modo descontrolado. É ao redor das 217 bacias fluviais
internacionais que se concentra 40% da população da humanidade. Por
causa do crescimento demográfico e da poluição, nos últimos 30 anos, os
recursos hídricos foram reduzidos em 40%. Da água disponível que
tínhamos, a humanidade acabou com cinco mil quilômetros quadrados. E
muitos ainda se comportam como se a água fosse um bem inesgotável. Usam
os recursos hídricos de modo irresponsável e injusto.
A água é um
recurso natural limitado e pode acabar. Tem valor econômico e
competitivo no mercado. Não pode ser desperdiçada (cada vez que se toma
um banho com chuveiro aberto todo o tempo desperdiça-se mais água do que
se usa). Quase todos os países atualizam legislações sobre a água. Em
vários lugares, há conflitos entre povos por causa da água. Há quem diga
que as guerras do futuro serão por causa de água. Organizações não
governamentais e movimentos populares defendem que a água não deve ser
mercantilizada – ela é mais do que uma mercadoria – e menos ainda
privatizada.
A Pastoral da Terra declara: “Sendo a água constitutiva do
ser humano, da vida como um todo e do meio ambiente, ela é um direito
natural, patrimônio da humanidade, dádiva divina e não obra humana. Por
isto, ela não pode ser reduzida a uma mercadoria e a um bem particular. E
nenhum ser humano pode arrogar a si o poder de negar a qualquer
semelhante ou ser vivo este bem essencial à vida”.
O cuidado com a
água tem, então, motivos sociais e econômicos. Mas a nossa relação com a
água só mudará se aprendermos com as culturas religiosas antigas a nos
relacionarmos com a terra e com a água de forma amorosa e espiritual. A
Bíblia fala da água como símbolo do espírito de Deus que derrama sobre o
universo uma vida nova. Cuidar bem da água e defender os rios e fontes é
uma forma de reconhecer a presença divina no universo, defender a vida e
participar da Páscoa pela qual Deus “renova todas as coisas” (Ap 21,
5).
* Publicado originalmente no site Brasil de Fato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário