O drama de nossas ruas.
Por João Pedro Fontes Zagni
O drama urbano
O
que leva a existência de meninos e moradores de rua é a falta de
incentivo à educação e término do ensino fundamental ou médio no país,
creio que se o país investisse mais na educação pública o Brasil não
teria tomado o rumo que tomou décadas atrás. Vide um exemplo: Vamos
supor que meu pai ganhe 13.000 reais de salário bruto, antes que ele
receba o seu salário em sua conta bancária, são descontados alguns
impostos feitos pelo governo, e seu salário cai para 9.000 reais, e isso
eles denominam de salário líquido, fora vários outros impostos que o
governo cobra dos cidadãos brasileiros ao longo do ano. É uma
estatística, o Brasil é um dos países que mais cobra impostos e não
reutiliza para o benefício dos cidadãos brasileiros, um pouco
vergonhoso, não?
Depois
de pensar um pouco nisso a única explicação racional é que os políticos
e administradores do Brasil não querem pessoas pobres e menos
favorecidas tendo ensino público de ponta, pois além de se importarem
apenas com sua avareza e sua ganância, não é de interesse de nenhum
deles que a base, a maioria brasileira seja informada, tenha estudos,
eles querem uma massa, uma maioria alienada para eles poderem
“controlar” com mais facilidade e para deixar que empregos mal
remunerados como, por exemplo: trocadores e motoristas de ônibus, garis,
garçons e derivados sejam ocupados por essa classe alienada, sem que
atrapalhem seus filhos no concurso que eles vão fazer para ingressar em
uma boa faculdade.
Esta
marginalização - pessoas que estão à margem da sociedade, sem acesso a
educação e saúde pública de qualidade cada vez tem menos chances de
progredir-
A
falta de estrutura familiar, e o pouco tempo dispensado em casa à
família fazem com que mais cedo meninos e meninas entrem em contato com
realidades como a bandidagem visando o lucro rápido, a prostituição e o
uso de drogas como paliativo para sensações angustiantes que é não ter
um futuro promissor, não ter uma família estruturada (não
necessariamente ter uma família padrão, e sim um suporte emocional).
Ao abrir a porta, o indivíduo encontra a rua. A rua é de todos, e a rua não é de ninguém, por fim.
As
pessoas passam tentando não ver porque estão correndo com as suas vidas
e procuram não repararem nestes dramas sociais que é a exclusão do
indivíduo levando-o as ruas, pois estes fatos já se tornarem normais em
seus cotidianos.
Quem governa as ruas? O guarda? Os seguranças? Em Londres temos as câmeras, um perfeito “big brother” da segurança estatal.
Que
ruas são estas? Ruas urbanas? Ruas de favelas? Ruas de terra? De pedra?
Asfaltadas? Valões? A rua como grande empregador, que fornece o “ganha
pão” a partir de ações moralmente não aceitas na sociedade que às vezes
são estimuladas até pelo seu grupo familiar como pedir esmola, furtos,
vender balas e fazer malabarismos em um sinal de transito, roubos,
assaltos, brigas, assassinatos, venda de drogas. Onde está o Estado?
Bom, ele está muito ocupado cuidando de seu próprio nariz, tente outra
vez mais tarde. Ele no momento está cuidando de passagens aéreas para
familiares de políticos, cuidando da compra de seus novos carros
esportivos, mansões, está cuidando de seus paraísos fiscais, mas com
certeza, não está cuidando da favela perto de sua casa, não está
investindo para melhorar o ensino do colégio público que tem em frente
ao nosso colégio, tenham certeza.
Poucas
são as iniciativas privadas, que, salvo honrosas exceções como, por
exemplo, o Instituto Airton Senna participa de ações altruístas,
solidárias e humanitárias em prol de uma sociedade esquecida pelos
administradores deste Estado.
Outro
dia, eu estava indo para casa já de noite e um menino de rua, com
nenhuma má intenção veio me pedir um chinelo, pois ele tinha caminhado o
dia inteiro e seus pés estavam cortados, eu pude ver em seus olhos sua
expressão de necessidade, de dor. Ele não me pediu esmola, só me pediu
que lhe desse um casaco ou um chinelo, e de fato, eu poderia dar. Porém,
alguma coisa deu em mim que eu o evitei, e disse uma desculpa dizendo
que não poderia e que não tinha sobrando, mas eu tinha. Arrependo-me
amargamente deste dia, chegando em casa o pobre menino não saia da minha
mente, pus o chinelo nos meus pés e sai de novo alegando para minha mãe
que iria para o mercado comprar algo e fiquei procurando o menino que
tinha me pedido ajuda, infelizmente, não o encontrei. Este caso me
atormenta até hoje, eu chorei por causa disto e fiquei sensibilizado, e
até escrevi sobre isto.
Se
nós refletirmos sobre isso, chegaremos a conclusão que de tanto
dizermos que não temos, que não podemos e evitarmos os meninos de rua
por mero preconceito imposto pela sociedade, quando chegar a hora em que
alguém que realmente precise, que não venha te pedindo dinheiro e sim
ajuda, você irá evitá-lo como uma reação espontânea, é um paradigma
imposto pela sociedade, é um modelo, um modelo que diz que é perigoso,
que é imoral e que devemos evitar estas coisas. É um modelo que impõe
uma idéia preconceituosa sobre meninos e moradores de rua, uma
generalização que diz que todos os meninos de rua são assaltantes,
cheiradores de cola, bandidos. Às vezes é o próprio drama que você
poderia estar vivendo, mas o seu condomínio de luxo, a carteira do seu
pai, o seu estilo de vida impedem que você vá pra rua, porque a rua é a
selva de pedras, é o último passo da decadência, é o fim da linha para
muitas pessoas.
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