1 CONTEÚDO E FORMA DA AVALIAÇÃO
Conteúdo e forma são duas dimensões essenciais na
concretização da avaliação da aprendizagem. O conteúdo da avaliação diz
respeito ao o que é tornado como objetivo de análise. A forma refere-se ao
“como “ esta avaliação ocorre. Muitos professores expressam a percepção da necessidade
de mudança tanto na forma quanto no conteúdo da avaliação por eles praticada.
Do ponto de vista do processo de mudança, isto é
importante por tratar-se de algo que constitui o cotidiano mesmo da avaliação,
sua realização na sala de aula e que, em grande medida, está ao seu alcance por
não depender tanto de fatores externos.
Falar do conteúdo da avaliação e, antes de tudo,
refletir sobre o campo sobre o qual irá incidir. A avaliação pode se dar sobre
diferentes aspectos da realidade: indivíduo, sala de aula, instituição de
ensino, sistema de ensino ou sociedade como um todo.
Dependendo do foco, teremos suas varias
modalidades: auto-avaliação, avaliação do processo de ensino-aprendizagem,
avaliação institucional, avaliação do sistema educacional e avaliação do
sistema social, que se articulam intrinsecamente. “Avaliar o aluno como um
todo” é uma das representações mais fortes entre os professores quando tratam
de suas práticas avaliativas: expressam isto tanto em relação ao que estão
realizando, quanto ao que é idealizado.
Quando vamos discutir com os professores alguma
questão concreta de um instrumento de avaliação, não raramente vem certa
decepção ou um sério questionamento. Percebe-se que o problema não está no
instrumento em si - que pode variar, naturalmente, de qualidade -, mas naquilo
que está sendo ensinado.
Um dos grandes problemas da educação escolar é a
falta de articulação entre o que se quer e a prática pedagógica, a intenção
declarada e a enraizada. Assim temos dois aspectos essenciais na elaboração da
proposta de trabalho:- O que o aluno precisa aprender (para definir o que
ensinar)- Como o aluno conhece (para saber o que ensinar)
A prática avaliativa, obviamente, se dará em cima
disto, enquanto processo e enquanto produto:- O que se está ensinando, até que
ponto é relevante?- Em que medida está se ensinando da forma adequada?A
avaliação reflete aquilo que o professor julga ser o fundamental, “o que
vale”.- mais ou menos consciente - Devemos atentar para o possível descompasso
entre o que se pensa ser o mais importante e aquilo que efetivamente está se
solicitando nas avaliações.
A pergunta sobre o conteúdo da avaliação, sobre o
que deve ser avaliado, resgata, pois, de imediato o questionamento: o que vale
a pena ensinar?A forma de avaliar diz respeito ao “como”, a maneira concreta
com que a avaliação se dará no cotidiano das instituições de ensino; envolve os
rituais, as rotinas, o desdobramento das diretrizes e normas, enfim, as
maneiras de fazer e de expressar os resultados da avaliação da aprendizagem.
Quando interrogamos os professores sobre o como
deve ser a avaliação, a perspectiva da avaliação como processo costuma ser
outra representação das mais presentes e enfatizadas. Entendemos que avaliação
processual, contínua, é essa atenção e ocupação permanente do professor com a
apropriação efetiva do conhecimento por parte do aluno, com a interação
aluno-objeto do conhecimento-realidade; é uma postura, um compromisso durante
todo o processo de ensino-aprendizagem, e não o multiplicar “provinhas” -
embora não prescinda de instrumentos e atividades variadas.
Nossa preocupação fundamental se centra em relação
à avaliação e à mudança de postura, visando superar sua abominável ênfase
seletiva. Até que ponto o instrumento influi? Entendemos que os instrumentos
não são neutros, embora tenham uma autonomia relativa.
É claro que
o como avaliar, a qualidade do instrumento também é importante, pois a própria
transformação da postura do professor pode ficar comprometida se ele se prender
a instrumentos e formas de avaliar tradicionais. Ocorre que este como está
ligado à concepção (arraigada) de educação que o professor/escola tem.
Se não mudarem as finalidades, de nada adiantara
sofisticar o instrumento. São, portanto, desafios que se implicam: a mudança de
postura em relação às finalidades (da educação e da avaliação) e a busca de
mediações adequadas (de ensinar e de avaliar).O que vislumbramos é que os
professores tenham uma tecnologia educacional incorporada, qual seja, que
precisem cada vez menos de artefatos, mas que possam desenvolver mentefatos
avaliativos (nele e nos alunos).
Almeja-se que com o tempo o professor incorpore uma
nova tecnologia de avaliação, de maneira que confie na sua experiência, na sua
intuição e fique mais livre de instrumentos formais - embora estes não possam
ser eliminados -. Como esta intuição não é nata, tem de ser trabalhada,
construída, e constantemente criticada.
Cabe lembrar, para que venham a se constituir em
práxis transformadora, que as várias iniciativas avaliativas devem estar
articuladas com a nova intencionalidade, bem como a outras dimensões do
processo educativo.
Fonte: VASCONCELLOS, Celso dos
Santos. Avaliação da Aprendizagem - Práticas de Mudança: por uma práxis
transformadora. São Paulo: Libertad, 2003.
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