terça-feira, 21 de julho de 2009

Reforçadores Naturais

Produtos Colaterais Clássicos x Educadores do Século XXI

A tarefa da educação é construir um repertório de comportamentos que eventualmente terá conseqüências reforçadoras na vida diária e profissional do graduando. Enquanto isso, professores provêem contingências instrucionais temporárias, algumas delas sociais.
O professor é parte do mundo do estudante, como um modelo ou como um provedor de conseqüências reforçadoras. Historicamente, as conseqüências têm sido quase sempre punitivas: quando não a palmatória ou o bastão, então a crítica ou a reprovação. Seguem-se os três produtos colaterais clássicos da punição: fuga (cabular aula), contra-ataque (vandalismo) e inércia obstinada.
Esforços para usar reforçadores naturais da vida cotidiana têm sacrificado fundamentos importantes como leitura, escrita e aritmética, para os quais não existem reforçadores naturais.
O estudante que sabe ler entra em contato com os reforçadores que os escritores colocam no que escrevem, mas esses reforçadores estão fora de alcance, até que esse estudante aprenda a ler com alguma fluência. Enquanto isso, reforçadores arbitrários podem ser usados, mas professores que compreendem o gerenciamento da sala de aula e a construção apropriada de materiais programados podem usar os reforços incondicionados de sucesso e sinais de progresso. Os repertórios que eles constroem terão conseqüências agradáveis e fortalecedoras quando o ensino terminar.
Quase a mesma coisa pode ser dita em relação à terapia operante. A terapia usando condicionamento respondente ou pavloviano é diferente. A dessensibilização, por exemplo, funciona tanto pela extinção de reflexos condicionados, como permitindo que respostas perturbadoras “instintivas” se “adaptem”. Pode haver um efeito fortalecedor, se o comportamento operante tiver sido suprimido, mas a terapia operante é uma questão direta de fortalecimento. O terapeuta, como o professor, é uma parte temporária de um ambiente social.
Medidas aversivas já foram comuns em terapia, mas os terapeutas atualmente recorrem a elas com freqüência muito menor do que os professores. Assim como no ensino, o comportamento que eles fortalecem deve ter conseqüências reforçadoras não apenas na presença do terapeuta, mas, posteriormente, no mundo em geral.
Muitas pessoas passam grande parte de seu tempo no trabalho. Especialmente desde a Revolução Industrial, o padrão tem sido, assim como na educação, “trabalhe ou sofra as conseqüências” – nesse caso, a demissão e a perda de um pagamento fixo. Os mesmos efeitos padrão do controle aversivo são evidentes: fuga (absenteísmo), contra-ataque (sabotagem) e tão pouca ação quanto possível. Soluções tradicionais, tais como permitir que o trabalhador tenha maior parcela da tomada de decisão, não atacavam o problema central, que está nas contingências, onde as mudanças estão começando a ser feitas.
O progresso não é tão claro em outros campos. Apenas uma pequena parte daqueles que controla as sanções governamentais e religiosas da vida cotidiana entendem o problema e o que pode ser feito para resolvê-lo. As contingências estão lá, entretanto, e presumivelmente será aprimorado tão logo seu papel seja compreendido.
Propostas para construção de um mundo melhor são usualmente rejeitadas como irremediavelmente utópicas ou como ameaças ao status quo. Governos, naturalmente, resistem à deserção e à revolução; religiões resistem à apostasia e à reforma; e indústrias resistem à nacionalização e ao controle de preços e salários. Não parece haver razão, entretanto, para qualquer um resistir ao tipo de mudança necessária aqui. Cidadãos, fiéis e empregados contribuirão igualmente para suas respectivas agências, quando as conseqüências aversivas forem substituídas por alternativas que agradem e fortaleçam.
O fato de que as culturas freqüentemente recorrem a controle. De uma maneira ou de outra, muito disso já foi dito antes. Certamente essa não é a primeira vez que alguém aponta para os danosos efeitos colaterais da civilização. Esse foi o tema central do Iluminismo. “O homem”, disse Rousseau, “nasce livre e está em toda parte acorrentado”, mas esse é apenas um exemplo. E certamente esta não é a primeira vez que alguém pergunta: “O que é a boa vida?” ou “Como ela pode ser alcançada?”. Mas pode haver algo de novo na presente resposta. As respostas tradicionais têm tomado várias direções.
Os epicuristas buscaram a boa vida através da multiplicação de seus prazeres. Os estóicos tentaram viver “acima do prazer e da dor”. Muitos têm procurado por respostas numa vita monastica ou num puritanismo rígido. Os místicos orientais proclamaram “abolir o aborrecimento através da apreciação da felicidade”.
Os racionalistas se voltaram para o autogerenciamento habilidoso. Todos esses tipos de soluções começaram como experiências pessoais. Elas têm servido como variações culturais a serem testadas por seu efeito na sobrevivência do grupo praticante. Nenhuma delas conseguiu maior sucesso do que gerar uma cultura fragmentária.
Uma solução baseada em princípios científicos pode ter uma chance melhor.
Estamos começando a ver por que as pessoas agem de determinada forma, e as razões são de uma natureza que pode ser alterada. Um novo conjunto de práticas não pode simplesmente ser imposto por um governo, religião ou sistema econômico; se fosse, não seria o conjunto correto de práticas.
Essas práticas devem assumir seu papel somente como uma variação a ser testada por seu valor de sobrevivência. As contingências de seleção estão além do nosso controle. As culturas se desenvolveram muito mais rapidamente do que a espécie, mas o tipo de mudança de que precisamos ainda levará muito tempo. Precisamos estar preparados para esperar.
É tranqüilizador, talvez, saber que o que está errado com a vida cotidiana, à parte de todas as outras coisas que estão erradas no mundo, é um problema mais característico do Ocidente. É tranqüilizador, talvez, porque o Ocidente também tem apoiado a ciência, particularmente a ciência comportamental, mais ativamente. É, portanto, um ambiente no qual o problema e uma possível solução se encontrou pela primeira vez.

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