quarta-feira, 7 de março de 2012

FAMILIA

 

O parentesco na ótica antropológica

RESUMO

O presente artigo consiste em uma análise relacional entre alguns conceitos (linhagem, regras de residência, aliança, afinidade, parentesco, etc.) com a etnografia do ensaio “família e reprodução humana” da Eunice Durhan. Os conceitos pelos quais nos pautamos são de autoria dos antropólogos Radicliffe-Brown, Lévi-Strauss e Evans Pritichard.

O parentesco na ótica da antropologia

Em primeiro lugar, assinalamos o conceito de linhagem para Evans-Pritchard inserido na obra Os Nuer. Esta obra clássica da antropologia britânica tem como campo etnográfico uma região africana mais precisamente O Sudão, país atravessado pelo Rio Nilo onde as tribos Nuer habitam foi o campo empírico desta tão bem executada pesquisa. Então, definiu o autor que um clã é um sistema de linhagens, e uma linhagem é um segmento genealógico de um clã. Por tanto, uma linhagem se define como um grupo de agnatos vivos, que descendem do fundador dessa linhagem determinada.

Ainda com relação ao sistema de linhagem, Evans-Pritichard se diferencia do Radicliffe-Brown, uma vez que o primeiro é mais abstrato, estruturalista. Para Lévi-Strauss, a proibição do incesto é a regra (condição de possibilidade da reciprocidade social – a exogamia – isto é, a troca. E a teoria da aliança é a sincronia enquanto que a descendência representa a diacronia, ou seja a aliança versus a filiação. 

E esta envolve a descendência social (reprodução biológica). Lévi-Strauss ainda mostra que a conjugalidade na estrutura elementar do parentesco gera a afinidade ( o cunhado). Daí a proibição do incesto que numa linguagem mais coloquial seria o sistema de troca, exemplificando: o caso de você casar com a minha irmã e eu casar com a sua.

Radidliffe-Brown, em sua obra Estrutura e Função na Sociedade Primitiva afirma que a antropologia tem, no campo etnográfico, o método comparativo como um dos mais completos. Ele exemplifica a importância de se fazer esse tipo de estudo comparativo falando da semelhança nas formas de representação de divisões sociais, para as quais vários povos de lugares distintos do globo usam pássaros. 

Esses mesmos pássaros são por vezes usados para explicar o mundo e as relações existentes. Este mesmo autor, para não perdermos o foco de análise deste trabalho, volta a questão que mais nos interessa. A relação de parentesco a qual pretendemos relacionar com a obra da Eunice Durhan que trata a família e a reprodução humana.

Para resumir a temática, Radicliffe-Brown na obra ” O irmão da mãe na África do Sul” conclui-se que o padrão de conduta para com a mãe, que é revelado na família em razão da natureza do grupo familiar e sua vida social, é estendido com modificações apropriadas à irmã da mãe e ao irmão da mãe, portanto ao grupo de parentes maternos, ancestrais do grupo da mãe.

No tocante ao sistema de parentesco, Levi-Strauss trata do problema da relação entre os tipos de sistema matrimonial. Começa afirmando que não há uma seqüência evolutiva ou hierárquica: um sistema com classes não é superior a um sem classes, e a passagem de um tipo de divisão em classes para outro não só é logicamente possível, como se trata de um dado empírico. 

Toma, então, o caso dos Murimbata como exemplo de difusão dos sistemas matrimoniais, mostrando que existe um problema de adaptação entre o “sistema tradicional” e o “sistema tomado emprestado”, e que os nativos, para consertar eventuais distorções, se valem de artifícios como utilizar o antigo tratamento patrilinear da filiação dentro de um sistema que é agora matrilinear. Assim, Levi-Strauss conclui que os sistemas não devem ser tratados como objetos isolados… Por trás dos sistemas concretos… há relações mais simples que permitem todas as transições e adaptações, quais sejam, as “relações elementares”.

Levi-Strauss conclui resumindo “o estado da questão das relações entre classes matrimoniais e sistemas de parentesco”. Esses últimos teriam papel preponderante na determinação positiva da prescrição do cônjuge, enquanto as primeiras agiriam no sentido negativo de dissuadir a violação da exogamia de classe.

.Em suma, entendeu-se que todo casamento é um encontro dramático entre a natureza e a cultura, a aliança e o parentesco. Este, portanto, é uma questão sociológica e não biológica.

O texto Família e reprodução humana da Eunice Durhan tem como eixo central a família e num sentido antroplógico procura de forma contundente desnaturalizar o conceito. Além disso, faz um resgate da questão da família nas três últimas décadas do século passado e início deste. Sabe-se, porém que a família enquanto grupo social tem como característica básica a biológica a qual implica em duas funções: o sexo e a reprodução.

Mas, sabendo-se que uma das funções da antropologia ou quem sabe talvez a mais eficaz seja desnaturalizar tudo que é natural e obviamente biológico, a antropóloga brasileira se ampara em Lévi-Strauss quanto a análise comparativa do casamento.

Ela cita o antropólogo francês quando mostra que o casamento é apreendido como relação a três. Não envolvendo apenas um homem e uma mulher, mas sim uma mulher e dois homens: aquele que a recebe e aquele ao qual ela é negada, em função do tabu do incesto. Do ponto de vista comparativo, diz a autora, permite dissociar a paternidade da família e do parentesco, percebendo inclusive que o grupo social onde se dá a reprodução não constitui necessariamente uma unidade de parentesco.

Cabe ressaltar ainda que numa visão antropológica, nas palavras da autora em pauta que os sistemas de parentesco devem se conceber como estruturas formais que consistem em arranjos e combinações de três relações básicas: as de descendências (entre pai/filhos e/ ou mãe/filhos), de consangüinidade (entre irmãos) e de afinidade (criadas pelo casamento).

Fazendo um paralelo entre os conceitos de parentesco de Lévi-strauss e o de Eunice Durhan percebe-se mais semelhanças de que diferenças, uma vez que há toda uma relação com outros autores clássicos já mencionados anteriormente.

Conclui-se, porém que, além de todos os comentários já colocados, entendemos que a autora que escolhemos para fazermos um contraponto utiliza um termo bastante abrangente o qual é a divisão sexual do trabalho. Isso remonta, na sociedade atual uma transformação do modelo familiar de muito anterior. 

A nosso ver, esta mulher enquanto membro da família tinha única e exclusivamente a tarefa doméstica: reproduzir e cuidar da casa e dos filhos. Com a modernidade, tudo se transformou e até em bom número os papéis se inverteram. 

O que queremos dizer com isso é que hoje a mulher está inserida no mercado de trabalho exterior e não apenas doméstico e executa uma dupla jornada de trabalho. Além do trabalho doméstico, trabalha fora disputando com o homem posição no mundo exterior. E em muitos casos a mulher trabalha fora e o homem fica em casa fazendo o papel que antes era só dela. É deveras relevante essa colocação para que possamos entender as relações familiares tanto no campo empírico quanto no científico.

Para que não haja uma fuga ao tema de nosso texto, esperamos ter atingido os objetivos que se pautava o mesmo. No entanto, a relação família, parentesco, afinidade, aliança, sistema de linhagem, em fim todos esses temas importantes para a antropologia fazem parte de todo um espectro cultural, e para que tenhamos uma visão nitidamente antropológica se faz necessário desnaturalizar tudo que é natural e nesse caso como tema central, em especial a família dentro de um contexto sócio-antropológico.

Referências bibliográficas
DURHAN, Eunice R. Família e reprodução humana. In Perspectivas antropológicas da mulher. Nº 3, Rio de Janeiro; Zarar, 1978.
EVANS-PRITCHARD, E. E. Os Nuer. São Paulo, Perspectiva, 1978.
LÉVI-STRAUSS, Claude. As Estruturas Elementares do Parentesco. Petrópolis, Vozes
RADICLIFFE-BROWN.A. R. Estrutura e Função na Sociedade Primitiva. Petropólis, Vozes, 1973.
Por: Raimundo Paulino da Silva - Sociólogo, antropólogo, especialista em educação e professor
publicado 14/02/2009
Fonte:

http://www.webartigos.com

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