domingo, 26 de setembro de 2010

Conto O canto da Côa


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O Canto da Côa

Por José Silva

As manhãs na fazenda Correio, onde passei grande parte de minha infância, eram lindas e contagiantes; acordava-se com o cantar harmonioso dos pássaros e da bicharada. Madrugada do canto da cotovia e do sabiá de laranjeira; aí começava a mistura de cantos da passarada com o berrar de bois,vacas, cabritos, o balido de ovelhas e carneiros, os gruídos de porcos, e, bem distante, lá no fim do vaquejador, ela infalivelmente, remata toda essa sinfonia campestre, o canto melancólico da seriema, vibra nas alturas o seu canto gutural.

Tenho saudade de recordar tristonho o passado infantil que a memória nunca ofuscou. São sonhos que vivo e revivo avelhantado com o meu planger pensativo...Ah! Quem me dera ser hoje o ser de ontem... Oh! Como me rememora o canto taciturno dos anus branco e preto, naquele sol senegalês do sertão baiano, que parecia tremer com a evaporação do solo.

Embora exista ainda hoje o canto de uma ave que assustava ao sertanejo com o seu canto lúgubre e prenúncio bom ou mau. Era uma ave de tamanho médio, mais ou menos o tamanho de uma pomba juriti; bico curto, cor parda com pinta preta no peito e cabeça parda. Ela só cantava, - dizia o sertanejo – para anunciar presságio alegre ou triste.Se cantasse no topo de uma árvore verde era bom presságio e no de uma árvore seca era mau presságio.Ela sentava nas árvores mais altas, e, seu porte elegante e majestático dava-lhe uma espécie de ave nobre.Cabeça erguida e postada de forma graciosa.

Lembro-me ainda o dia em que a vi cantar pela primeira vez, era uma tardinha aonde o crepúsculo solar já se ia descendo por detrás da verdejante mata.

Corremos todos para procurá-la, logo ao lado direito da entrada do curral estava ela lá no topo de uma árvore seca no seu último galho, toda imponente a cantar.Coã...coã...coã...ela ficou ali a cantar mais ou menos uns cinco minutos e voou na direção norte, segundo o sertanejo – de onde vinha má notícia.

Voltamos todos calados um olhando para outro com certo receio. Minha mãe falou que aquilo era bobagem que nada ia acontecer de ruim é cisma dessa gente supersticiosa,falava sem convicção, só para nos animar.

Depois de tomarmos banho, o jantar já estava na mesa e jantávamos alegres quando ouvimos o atropelo de animal que logo parou na porta da casa.Chegava o meu primo Leopoldo, trazendo a notícia da morte de meu tio Suplício, irmão de minha e quem a criou, vez que minha avó havia falecido do parto de minha mãe.

Ficava assim delineado o canto da côa. A notícia veio do norte.

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