sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Entrevista com Luli Radfahrer


A utopia tecnológica: uma quase realidade

* Luli Radfahrer

O mundo dispõe cada dia mais da capacidade de armazenamento de dados. De que maneira isso muda a nossa forma de nos comportarmos na Internet em relação aos "arquivos da nossa vida"?
Luli Radfahrer – Em princípio, em nada. A idéia de "armazenar" as coisas – de livros a fotografias – vem de nossa relação com o conteúdo e a informação, que sempre foi escassa. Havia poucas imagens, pouca informação, por isso era preciso guardá-la seguramente em casa. À medida que a conexão se torna permanente, e o conteúdo mais abundante – e o mesmo acontece com nossas fotografias e até programas de rádio - armazená-lo não justifica sua redundância. Acredito sinceramente que a computação em nuvem tenha vindo para ficar e que daqui a alguns anos riremos do fato de termos que carregar HDs (discos rígidos) tão grandes.

O uso da Internet como computação em nuvem (cloud computing) traz, em sua opinião, que tipo de visões e conceitos sobre computadores, softwares e arquivos?
Luli Radfahrer – Tanto aqueles que disse anteriormente quanto mais uma série de outros que surgirão a partir do instante que pudermos compartilhar a capacidade de processamento de nossas máquinas (que passam a maior parte do tempo ociosas) para a geração de serviços muito mais sofisticados, que demandem computação intensa, inimaginável para os padrões de hoje. Há 1,5 bilhões de computadores conectados à Internet hoje. Cada um deles é uma “maquininha” ociosa e isolada. Imagine que maravilha quando todos puderem compartilhar forças?

Esse conceito de computação em nuvem vem muito do trabalho do Google. Para você, qual o futuro da Internet, segundo o Google?
Luli Radfahrer – Computação em nuvem é um conceito muito anterior à existência do Google. Ela só tornou o conceito viável comercialmente por ter sido uma empresa que surgiu após o “estouro da bolha”, e, nessas condições, pode contar com uma situação única: excelentes profissionais a baixo custo, computadores ociosos e muitos cabos de banda larga espalhados pelo mundo. O futuro da Internet, com ou sem Google, é uma interconexão cada vez maior de produtos e serviços. A web semântica [1] é um desses exemplos, ao conectar bases de dados e não mais "páginas" mortas. A computação física é outra, ao relacionar essas bases a informações ambientais. Inteligência artificial e compartilhamento ainda estão em sua infância, o mesmo pode ser dito da comunicação pessoal, que hoje é representada por essas próteses que mal reconhecem voz e que chamamos de celulares.

Em resumo, há muito espaço para a inovação na Internet, fora da web e, naturalmente, do Google. Essa lógica da "vida na Internet" muda de que forma a nossa presença no mundo digital?
Luli Radfahrer – Acredito sinceramente que tecnologias quando chegam a uma maturidade se tornam transparentes. Foi assim com luz, água, saneamento, lixo. Hoje, a Internet se torna transparente e, em breve, não falaremos mais nela. Ela será, simplesmente, vivida. On=off e o mundo "analógico" tenderá a ser visto como uma excentricidade.

Certa vez, ao comentar sobre mobilidade, o senhor sugeriu que parássemos de pensar apenas na Internet no celular. No futuro, onde mais a Internet, quando falamos em mobilidade, precisa e vai estar?
Luli Radfahrer – Em roupas que troquem de textura quando esfria ou de cor de acordo com o ambiente. Em carros, que saberão os melhores caminhos e formas de poupar combustível. Em janelas, que podem se transformar em coletores solares. E assim por diante...

As possibilidades que a computação em nuvem nos traz também mudarão (ou já estão mudando) a nossa presença e nossos usos nas redes sociais?
Luli Radfahrer – Sim. Os metaversos – dos quais o Second Life [2] foi um rascunho infeliz, mas que o The Sims [3] e o Warcraft [4] são exemplos robustos – tendem a ser as novas redes sociais. Elas podem estar em mundos-espelho, que reflitam as características de hoje, ou em ambientes completamente fantásticos e complexos. A revolução mal começou, ainda estamos no prefácio.

Importante Lembrar:

*Luli Radfahrer é um dos principais pesquisadores brasileiros na área de comunicação digital. Ele conversou sobre um conceito/tecnologia que vem mudando de forma significativa o mundo: a computação em nuvem (cloud computing), que consiste em compartilhar ferramentas computacionais pela interligação dos sistemas com o reporter da Amaivos . “Ela só tornou o conceito viável comercialmente por ter sido uma empresa que surgiu após o “estouro da bolha”, e, nessas condições, pode contar com uma situação única: excelentes profissionais a baixo custo, computadores ociosos e muitos cabos de banda larga espalhados pelo mundo. O futuro da Internet, com ou sem Google, é uma interconexão cada vez maior de produtos e serviços”, explicou Luli.

Notas:
[1] A web semântica é uma extensão da Web Actual, que permitirá aos computadores e humanos trabalharem em cooperação. Ela interliga significados de palavras e, neste âmbito, tem como finalidade conseguir atribuir um significado (sentido) aos conteúdos publicados na Internet de modo que seja perceptível tanto pelo humano como pelo computador.
[2] O Second Life é um ambiente virtual e tridimensional que simula, em alguns aspectos, a vida real e social do ser humano. Foi criado em 1999 e desenvolvido em 2003 e é mantido pela empresa Linden Lab. O número de usuários (residentes) conectados ao Second Life gira em torno de 60.000, com alguns picos acima de 70.000 nos fins de semana. A Revista IHU On-Line, no. 226, 02-07-2007, publicou uma edição sobre o tema, intitulada Second Life: uma fábrica de sonhos e desejos.
[3] The Sims é uma série de jogos eletrônicos de simulação de vida, criado pelo designer de Jogos Will Wright. Foi lançado em 2000. São jogos onde se podem criar e controlar as vidas de pessoas virtuais (chamadas de Sims).
[4] O Universo Warcraft é um universo ficcional, descrito por uma série de jogos e livros publicados pela Blizzard Entertainment e foi apresentado inicialmente pelo jogo Warcraft:Orcs & Humans no ano de 1994.

Fonte: UNISINOS
* Luiz Guilherme de Carvalho Antunes, conhecido como Luli Radfahrer, é graduado em Tecnologia em Processamento de dados pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Também é graduado em Publicidade e Propaganda pela Universidade de São Paulo, onde cursou o mestrado e doutorado em Ciências da Comunicação. Nesta mesma universidade, é, atualmente, professor e realiza uma pesquisa em torno do tema Comunicação Digital e Redes Interativas. Entre suas obras, destacamos O Fim da Idade mídia (São Paulo: ed. São Paulo, 2009).
http://amaivos.uol.com.br
Visitado em 09.09.2009

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