quinta-feira, 24 de setembro de 2009

LITERATURA



Vagabundo


Eu durmo e vivo ao sol como um cigano,Fumando meu cigarro vaporoso;

Nas noites de verão namoro estrelas; Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso!

Ando roto, sem bolsos nem dinheiro; Mas tenho na viola uma riqueza:

Canto à lua de noite serenatas,E quem vive de amor não tem pobreza.


Não invejo ninguém, nem ouço a raiva. Nas cavernas do peito, sufocante,

Quando a noite na treva em mim se entornam.

Os reflexos do baile fascinante. Namoro e sou feliz nos seus amores.

Sou garboso e rapaz... Uma criada Abrasada de amor por um soneto.

Já um beijo me deu subindo a escada...


Oito dias lá vão que ando cismadoNa donzela que ali defronte mora.

Ela ao ver-me sorri tão docemente!Desconfio que a moça me namora!...

Tenho meu por meu palácio as longas ruas;Passeio a gosto e durmo sem temores;

Quando bebo, sou rei como um poeta,E o vinho faz sonhar com os amores.


O degrau das igrejas é meu trono,Minha pátria é o vento que respiro,

Minha mãe é a lua macilenta,E a preguiça a mulher por quem suspiro.

Escrevo na parede as minhas rimas,De painéis a carvão adorno a rua;

Como as aves do céu e as flores purasAbro meu peito ao sol e durmo à lua.


Sinto-me um coração de lazzaroni;

Sou filho do calor, odeio o frio,Não creio no diabo nem nos santos...

Rezo a Nossa Senhora e sou vadio! Ora, se por aí alguma bela

Bem doirada e amante da preguiçaQuiser a nívea mão se unir à minha,

Há de achar-me na Sé, domingo, à Missa.

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