A PARABOLA DO SEMEADOR |
Escrito por Edward Burke Junior | |
"Um semeador saiu a semear...
E os que estão junto do caminho...".
Lucas 8.5 e 12.
Encontramos em nossa caminhada cristã vários tipos de pessoas: Algumas que nasceram de novo e estão correndo com perseverança a carreira que está proposta. Há outras que estão no início desta caminhada, são criancinhas em Cristo.
Encontraremos também aquelas que estão aprendendo, mas ainda não chegaram ao pleno conhecimento da verdade. Também há aquelas que não entendem nada do que é dito na Palavra; a sua atividade é apenas religiosa, vive uma vida de hipocrisia. Estes são pecadores que se escondem atrás de uma capa de religião para se justificarem diante de Deus.
Nossa função não é julgar, mesmo porque não somos melhores do que ninguém, mas aprender de Jesus sobre a parábola do semeador (Lembrando que uma parábola não é uma estória, mas uma verdade mostrada por um exemplo): "quando semeava, caiu alguma junto do caminho, e foi pisada, e as aves do céu a comeram; e outra caiu sobre pedra e, nascida, secou-se, pois que não tinha umidade; e outra caiu entre espinhos e crescendo com ela os espinhos, a sufocaram; e outra caiu em boa terra, e, nascida, produziu fruto, a cento por um. Dizendo ele estas coisas, clamava: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça" Lucas 8.5-8.
Esta parábola não fala de salvação ou perdição, mas daqueles que são salvos e necessitam crescer sobre a revelação do reino. No livro de Lucas não há a expressão "palavra do reino", mas Mateus 13, no verso 19 ensina assim: "Ouvindo alguém a palavra do reino, e não a entendendo, vem o maligno, e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que foi semeado ao pé do caminho". Nesta parábola Jesus ensina aos seus discípulos e não ao povo. Ao povo não é dado compreender porque para o povo é preciso pregar o evangelho da graça e não o evangelho do reino (Mateus 13.11).
A Palavra é a semente de Deus para quem semeia e pão para quem come: "Porque, assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei" Isaías 55.10-11.
A que caiu na beira do caminho, são aquelas que o Senhor não achou a terra fofa, mas dura. A beira do caminho é onde a terra é pisoteada pelos seus transeuntes. Esta terra é comparada àqueles onde a Palavra de Deus cai num coração endurecido para ouvir o ensino do Senhor, num coração de incredulidade: "Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto" Hebreus 3.7-8.
Como disse Jesus, ainda que sejam solos duros, a Palavra é colocada nos seus corações, porque tem coração para receber, e também porque a Palavra de Deus é viva e eficaz (Hebreus 4.12). Como já vimos em meditações anteriores, a Palavra de Deus para ser implantada nos nossos corações, não depende da nossa compreensão ou aceitação. A princípio ela nos traz conhecimento, depois fé e aí compreensão. Mas estes endurecem o coração e não crêem. Ouvem, mas não a retém, e então vem o diabo e tira do coração a Palavra: "Eles, porém, não quiseram escutar, e deram-me o ombro rebelde, e ensurdeceram os seus ouvidos, para que não ouvissem. Sim, fizeram os seus corações como pedra de diamante, para que não ouvissem a lei, nem as palavras que o Senhor dos Exércitos enviara pelo seu Espírito..." Zacarias 7.11-12.
Aqui mais uma vez Deus nos prova pela Sua Palavra que não é livre-arbítrio; não passa pela mente humana, nem pela vontade do homem. A Palavra de Deus é implantada no coração do homem, mas como o endurece, vem o diabo e tira a Palavra do coração, para que não lhe resplandeça o evangelho do reino, a salvação com glória eterna: "Portanto, tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna" II Timóteo 2.10.
O Senhor nos ensina que uma vez que o recebemos temos que crescer na graça e em seu conhecimento (II Pedro 3.18). A salvação não é o fim da obra de Deus, mas o seu propósito é nos fazer reinar juntamente com Cristo e para isto nos adverte que temos que guardar até o fim a nossa confiança inicial (Hebreus 3.5). Como o Senhor tirou aquele povo de Egito, e o conduziu pelo deserto para introduzi-los na terra, o Senhor tem nos falado sobre um reino, um descanso sabático para o povo de Deus que ainda está por vir, e que devemos, por isso, correr com perseverança a carreira proposta: "Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no seu repouso, ele próprio repousou de suas obras, como Deus das suas. Procuremos, pois, entrar naquele repouso, para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência" Hebreus 4.9-11.
Jesus nesta parábola nos ensina sobre a nossa caminhada cristã, e os percalços que vamos encontrar no caminho. A primeira delas é quando ele nos ensina sobre o reino. A salvação é pela graça, mas a entrada no reino requer esforço e diligência: "Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência" . A graça se manifestou salvadora a todos os homens (Tito 2.11), é para todo aquele que confessar a Jesus como Senhor e crer no seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos (Romanos 10.9). Mas no reino nem todos os filhos de Deus irão entrar, nem todos irão reinar com Cristo, somente os vencedores: "Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono" Apocalipse 3.21.
Por isso quando o Senhor nos ensina sobre o reino, ainda que não compreendamos muito bem, temos que recebê-lo por fé. Saber é o primeiro passo do Senhor para nós, depois mediante a Sua Palavra temos que crer, e depois então vamos entender: "Vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor, e meu servo, a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que eu sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá" Isaías 43.10. Este é o primeiro passo quando ouvimos a palavra do reino. Mas aí vem a segunda parte.
"E os que estão sobre pedra...". Lucas 8.5 e 13.
Acima Jesus nos ensina sobre aqueles que a Palavra cai à beira do caminho, isto é, a Palavra é colocada em seus corações, mas porque eles endurecem o coração quando ouvem a palavra do reino, e não crêem, logo vem o diabo e tira do coração a Palavra. É interessante que quando ouvem até consentem com a verdade, mas depois que o diabo tira a palavra do coração é como se nunca a tivessem ouvido.
Como podemos notar em todos eles a Palavra é a mesma, os solos é que são diferentes. Nesse, a Palavra caiu sobre pedra: "E os que estão sobre pedra, estes são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria, mas, como não têm raiz, apenas crêem por algum tempo, e no tempo da tentação se desviam" Lucas 8.13. Ou como diz em Mateus, vindo a angústia e a perseguição, logo se escandalizam (Mateus 13.21).
Como disse Jesus, estes são os que ouvem a Palavra, e a recebem com alegria. A sua fé é temporária, mas quando vem a provação, se escandalizam. A vida cristã não é uma vida de aparências, mas de fé em fé, e de fé e perseverança: "E o irmão entregará à morte o irmão, e o pai ao filho; e levantar-se-ão os filhos contra os pais, e os farão morrer. E sereis odiados por todos por amor do meu nome; mas quem perseverar até ao fim, esse será salvo" Mateus 13.12-13. As que caíram sobre pedra, são aqueles que receberam a fé que vem pelo ouvir da Palavra de Deus (Romanos 10.17), mas não suportam as provações, as tentações, as perseguições por amor do Senhor. São os filhos de Deus que não querem passar sofrimentos pela causa de Cristo. E por não passarem as provações, não crescem, não chegam à perfeição: "Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações; sabendo que a prova da vossa fé opera a paciência. Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma" Tiago 1.2-4.
O Senhor não concorda em Sua Palavra com o evangelho da prosperidade, e muito menos com o evangelho triunfalista. O Senhor não promete para os seus filhos neste mundo uma vida pacata e tranquila. O que vemos muito claramente são perseguições, injúrias, necessidades e até mortes. Quando recebemos a palavra do reino, e a retemos com alegria, e passamos a caminhar com os olhos fitos em Jesus, aí começam as angústias, as provações e perseguições. É neste momento que mostramos a nossa perseverança ou não nesta palavra. Mas também é neste momento que as forças do inferno se levantam para nos impedir de caminhar, de fazer mais firme a nossa vocação e eleição (II Pedro 1.10-11).
Como nos ensina Deus em Sua Palavra, não há mais volta para aqueles em que a semente cai sobre pedra. Como Esaú, eles até podem chorar querendo a benção, mas não encontram lugar de arrependimento; estes não podem ser renovados para o arrependimento: "E ninguém seja devasso, ou profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou" Hebreus 12.16-17.
Esse não é o caso daqueles que caem em pecado, se desviam e depois vem para a sua denominada `igreja´ buscando reconciliação. Nesse caso as denominações recebem de volta, mas Deus nunca o recebeu. Ele somente se desvia do convívio com a igreja em que freqüentava, porque o homem nasce em pecado, e é desviado de Deus desde a madre: "Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, falando mentiras" Salmos 58.3; se não houver um nascimento do Espírito, será como uma porca que foi lavada pelo batismo e volta para o lamaçal. Volta suja, tornam a lavá-la e volta a sujar-se novamente: "Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado; deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama" II Pedro 2.20-22.
Para os que caíram entre pedras não há mais volta, somente a tristeza de ficar fora do reino. Para o que se desviou da chamada `igreja´ em que freqüenta, pode haver um verdadeiro arrependimento para com Deus, mas para os que a semente caíu sobre pedra não. Como as virgens insensatas, quando o noivo vier, eles ficarão fora do reino, a lamentar com choros e ranger de dentes: "Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, e Isaque, e Jacó, e todos os profetas no reino de Deus, e vós lançados fora." Lucas 13.28.
Temos que compreender muito claramente que nesta parábola o Senhor Jesus não fala de salvação ou perdição. Os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento. Aquilo que Deus nos deu por graça em Cristo jamais será tirado de nós. A redenção que o Senhor nos deu é eterna, mas o que o Senhor nos ensina nesta parábola é sobre o que acontece conosco na nossa caminhada cristã. Desde quando recebemos a palavra do reino, até a nossa entrada no reino em si. Como iremos nos portar diante das agruras desta vida, do nosso viver neste mundo como filhos de Deus. Não sendo somente ouvidos esquecidos, da palavra que é poderosa para salvar as nossas almas, mas executores da obra (Tiago 1.19-25). Edificando a nossa casa sobre uma rocha (Mateus 7.24).
A salvação não é um fim, mas o início de uma caminhada cristã que nos levará à entrada num reino, e de lá, depois de mil anos, ao novo céu e nova terra. É verdade que depois de mil anos todos os filhos de Deus, tanto os que reinaram com Jesus e os que ficaram fora do reino irão novamente se reunir com o Senhor para a entrada no novo céu e nova terra, mas como diz Paulo em I Coríntios 3, dos versos 12 a 15, sofrerão um prejuízo de mil anos. Mil anos para Deus é como um dia, mas para aqueles que não atentarem para a Sua Palavra, se escandalizarem e não perseverarem até o fim, será uma eternidade: "E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo".
Portanto, a exortação de Deus para todos os que têm ouvido a Sua Palavra é: "Portanto, convém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido, para que em tempo algum nos desviemos delas. Porque, se a palavra falada pelos anjos permaneceu firme, e toda a transgressão e desobediência recebeu a justa retribuição, Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram;... Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo. Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado; porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim" Hebreus 2.1-3, 3.12-14.
"A parte que caiu entre os espinhos...". Lucas 8.5 e 14.
Vimos anteriormente Jesus nos ensinando sobre aqueles em que a Palavra caiu na beira do caminho e entre pedras. Esses são os que ouvem e não a retém, e os que caíram sobre pedras são os que recebem com alegria, mas é de pouca duração; logo se escandalizam por causa das provações, angústias e perseguições que sofrem por causa da Palavra. Experimentam várias coisas de Deus, a salvação foi real para eles, mas no tempo da angústia e das perseguições preferem não sofrer pelo Senhor. Buscam o seu próprio proveito e se conformam a este mundo, procurando viver anônimos, ou no mínimo, como aqueles que não provocam nenhuma contrariedade.
Na continuação da parábola do semeador Jesus nos ensina sobre aqueles em que a Palavra caiu entre espinhos: "E a que caiu entre espinhos, esses são os que ouviram e, indo por diante, são sufocados com os cuidados e riquezas e deleites da vida, e não dão fruto com perfeição" Lucas 8.14. Há outra versão que diz que os frutos não chegam a amadurecer. Eles dão frutos, vai o seu caminho, mas o fruto fica verde e se perde. Eu creio que este é o estágio mais perigoso para um filho de Deus, quando ele se depara com os prazeres desta vida.
Deus planta a boa semente, na esperança de colher bons frutos: "Ou não o diz certamente por nós? Certamente que por nós está escrito; porque o que lavra deve lavrar com esperança e o que debulha deve debulhar com esperança de participar do fruto" I Coríntios 9.10, mas como disse Jesus, ela é sufocada com os cuidados, riquezas e deleites da vida. A pessoa crê com o coração, permanece na Sua Palavra, e vai o seu caminho como um cristão, mas o cuidado e o prazer pelas coisas do mundo sufocam a Palavra e não deixa que esse cristão dê um fruto perfeito, um fruto que chegue a amadurecer: "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre" I João 2.15-17.
Muitos dão como desculpas nos seus muitos afazeres e cuidados com as coisas dessa vida, que tem de cuidar com diligência daquilo que Deus lhes deu, como uma mordomia, mas não é isso. Os cuidados dessa vida não podem sufocar a Palavra que é viva em nós. Essas coisas não podem ser impedimentos para a vida cristã, e sim de edificação. Quando nos são dadas como mordomia, não sufocam a Palavra, mas dá muito fruto. Jesus aqui nos ensina que a que caiu entre espinhos, que são esses cuidados e deleites da vida, eles sufocam a Palavra. Esses cristãos não dão fruto com perfeição.
A vida cristã é para alegria mútua, tanto de Deus que semeia a boa Palavra, como daquele que dá bom fruto: "E, dizendo-o a Jotão, foi e pôs-se no cume do monte de Gerizim, e levantou a sua voz, e clamou e disse-lhes: Ouvi-me, cidadãos de Siquém, e Deus vos ouvirá a vós; foram uma vez as árvores a ungir para si um rei, e disseram à oliveira: Reina tu sobre nós. Porém a oliveira lhes disse: Deixaria eu a minha gordura, que Deus e os homens em mim prezam, e iria pairar sobre as árvores? Então disseram as árvores à figueira: Vem tu, e reina sobre nós. Porém a figueira lhes disse: Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto, e iria pairar sobre as árvores? Então disseram as árvores à videira: Vem tu, e reina sobre nós. Porém a videira lhes disse: Deixaria eu o meu mosto, que alegra a Deus e aos homens, e iria pairar sobre as árvores? Então todas as árvores disseram ao espinheiro: Vem tu, e reina sobre nós. E disse o espinheiro às árvores: Se, na verdade, me ungis por rei sobre vós, vinde, e confiai-vos debaixo da minha sombra; mas, se não, saia fogo do espinheiro que consuma os cedros do Líbano" Juízes 9.7-15.
A vida cristã é comparada a uma plantação do Senhor, que dá muito fruto, para que Ele seja glorificado (Isaías 61.3 e Salmos 1.3). Jesus nos ensina que o Pai é o viticultor, Jesus a videira e nós os ramos. Ele cuida para que a sua videira dê muito fruto. Fomos escolhidos por Jesus para dar muito fruto, e não podemos deixar que o mundo, os seus cuidados e os seus deleites nos desviem do propósito de Deus: "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto. Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda" João 15.1-2 e 16.
Para os cristãos, a amizade do mundo é inimizade contra Deus (Tiago 4.4), mas não podemos esquecer que a sedução das riquezas e os deleites da vida também não o deixam dar fruto com perfeição. Fomos criados para a Sua Glória: "A todos os que são chamados pelo meu nome e os que criei para a minha glória, os formei, e também os fiz" Isaías 43.7, e para publicar o seu louvor e não para envolvermos e nos deleitarmos com as coisas dessa vida: "Esse povo que formei para mim, para que publicasse o meu louvor" Isaías 43.21.
Alias, há uma coisa apenas que Deus considera galardão nesta vida, é comer do bem do nosso trabalho e gozar com a mulher da nossa mocidade, porque o restante é vão: "Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade; porque esta é a tua porção nesta vida, e no teu trabalho, que tu fizeste debaixo do sol" Eclesiastes 9.9.
Amar a Deus de todo o nosso coração, de todo a nossa alma e de todo o nosso pensamento é o primeiro e grande mandamento. Amar o próximo como a si mesmo é o segundo e semelhante a este (Mateus 22.37-39). Amar não é buscar o nosso próprio interesse, mas o do outro. Amar a Deus é viver para Ele, buscar o seu interesse e não o nosso; publicar o seu louvor, glorificá-Lo, e dar fruto com perfeição: "Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais de outro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus" Romanos 7.4.
Creio que em todas essas fazes que um cristão passa, como já dissemos, esta é a mais perigosa porque pode parecer como se fosse uma benção de Deus. Como se a prosperidade, os prazeres da vida fossem uma benção de Deus, e é desde que não sufoque a Palavra, desde que não torne a vida cristã infrutífera, estéril ou vã na graça de Deus: "Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo" I Coríntios 15.10.
Mas se formos a fundo nestas três fases que acontecem na vida de um cristão, vamos constatar que Satanás está por trás de todas elas. A primeira Jesus se refere a ele como arrebatando a palavra do coração daqueles que ouviram, mas entre as pedras e os espinhos com certeza ele está por trás, criando impedimentos para os filhos de Deus, e até entre aqueles que a semente caiu em boa terra. Ele não pode retirar aquilo que Deus deu a um filho, a salvação e o penhor do Espírito, mas ele tenta de todas as formas impedir que um filho de Deus cresça, que dê muito fruto. Ele é o inimigo das nossas almas, e já que ele não consegue tirar a salvação, vai impedir de todas as formas que um filho de Deus reine, porque esse é a sua inveja desde o princípio. Ele nunca aceitou que Deus desse ao homem reinar nesta terra, e de todas as formas vem tentando impedir desde o jardim do Éden.
E não somente isto, mas como ele hoje é o príncipe deste mundo, se agarra com unhas e dentes impedindo que o reino do Senhor seja estabelecido neste mundo e que os filhos de Deus reinem com Ele. Ele não poderá impedir completamente isto, mas para ele, ficará satisfeito em impedir que muitos reinem e se glorie em Cristo. Mas há um jeito precioso de vencê-lo, não nos conformarmos a este mundo, pois o mundo jaz no maligno, e vencê-lo pelo sangue do Cordeiro e pela Palavra do seu testemunho (Apocalipse 12.11). Portanto, estejamos apercebidos, tomando toda a armadura de Deus e resistindo; remindo o tempo porque os dias são maus.
"E a que caiu em boa terra...". Lucas 8.5 e 15.
Como vimos anteriormente, Jesus nos ensinando os três tipos de solos em que a Palavra de Deus caiu. No primeiro a Palavra foi colocada no coração, mas vem o diabo e a arrebata para que não creiam. No segundo, a Palavra caiu entre pedras. Esses recebem a Palavra com alegria, mas são de pouca duração, não perseveram na vida cristã. O terceiro caiu entre espinhos. Esses são os que se envolvem com os cuidados, deleites e prazeres dessa vida e não dão fruto com perfeição.
Os seus frutos não chegam a amadurecer, ficam ociosos e infrutíferos no conhecimento de Cristo: "E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, e à ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade, e à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade. Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele em quem não há estas coisas é cego, nada vendo ao longe" II Pedro 1.5-9. Só enxergam o que está perto; só atentam para as coisas temporais, as coisas que são visíveis: "Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas" II Coríntios 4.18.
Jesus agora nos fala por último, de um solo fértil, de uma boa terra que recebe a Palavra e dá fruto com perseverança: "E a que caiu em boa terra, esses são os que, ouvindo a palavra, a conservam num coração honesto e bom, e dão fruto com perseverança" Lucas 8.15. Esses são os cristãos que recebem a Palavra com um coração puro; um coração honesto e bom. Esses são aqueles que guardam a Palavra de Deus em seus corações para não pecar contra Ele: "Filho meu, guarda as minhas palavras, e esconde dentro de ti os meus mandamentos. Guarda os meus mandamentos e vive; e a minha lei, como a menina dos teus olhos. Ata-os aos teus dedos, escreve-os na tábua do teu coração" Provérbios 7.1-3.
Esse é a vida que Deus escolheu e nos deu para vivermos diante dEle, a vida de Seu Filho. Essa não é a vida de um cristão especial, ou excepcional, mas de um cristão normal, mas muito raros nesses dias. Toda a suficiência para ela está em Cristo que é a nossa vida. Deus já nos deu tudo o que diz respeito à vida e a piedade, pelo pleno conhecimento, daquele que nos deu a sua plena graça, que nos chamou por sua própria glória e virtude (II Pedro 1.3). O único impedimento para vivermos esta vida vitoriosa não está em Deus, mas em nós mesmos, quando não recebemos a palavra em nós implantada e não cremos, ou nos deixamos nos envolver com as coisas desta vida. Da mesma forma que Deus pregou a Israel sobre uma terra que emanava leite e mel, o Senhor tem hoje nos falado das abundantes riquezas da sua graça para conosco em Cristo Jesus, onde estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento.
Somente quando tiramos os olhos de Jesus é que ficamos confundidos. Naquilo que olhamos, que contemplamos é o que refletimos. Quando olhamos para as circunstâncias, para as angústias, perseguições, ou mesmo para as seduções das riquezas e deleites desta vida, refletimos no rosto como um espelho a glória daquilo que contemplamos. Se olharmos para estas coisas, vamos refletir no nosso viver estas coisas, mas se olhamos firmemente para o Senhor, vamos refletir como um espelho a glória do Senhor. E nesta glória somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor (II Coríntios 3.18).
O mundo hoje vive em alta velocidade, exalta a precocidade. O amadurecimento é feito em estufa, cada um busca o que é propriamente seu e não o que é de Cristo (Filipenses 2.21); mas isto não se conforma com o Reino de Deus: "Portanto assim diz o Senhor Deus: Eis que eu assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada; aquele que crer não se apresse" Isaías 28.16. "Mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia" II Pedro 3.8.
No Reino de Deus, tudo tem o seu tempo próprio, e esse tempo é determinado por Deus: "Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou" Eclesiastes 3.1-2. Para tudo há um tempo e um propósito. O Senhor poderia nos dar a salvação e imediatamente nos retirar deste mundo, mas Ele não faz isto. Ele usa este mundo, e até mesmo permite as investidas de Satanás, como uma escola, como um exercício da fé para nós, mas não para sermos vencidos, antes, sermos vencedores. Para estarmos com o Senhor Jesus em seu reino temos que ser preparados para ele, obtermos o caráter de Cristo e do seu reino de justiça. Nesta escola, na escola neste mundo vamos passar por um ensino didático, depois prático, e em cada ensino as provas virão a cada tempo para estarmos aprovados diante de Deus.
No livro de Marcos, capítulo 4, dos versos 4 a 29, podemos notar detalhes preciosos quando Jesus conta a parábola do semeador. Nos versos 16 e 17, ele ensina que a que caiu entre pedras, são aqueles que são apressados, são temporãos, fora do tempo de Deus: "E da mesma forma os que recebem a semente sobre pedregais; os quais, ouvindo a palavra, logo com prazer a recebem; mas não têm raiz em si mesmos, antes são temporãos; depois, sobrevindo tribulação ou perseguição, por causa da palavra, logo se escandalizam". Logo em seguida, no mesmo capítulo 4 de Marcos, nos versos 26 a 29, Ele nos ensina ao que se assemelha o Reino de Deus, às fases normais de plantio e crescimento: "E dizia: O reino de Deus é assim como se um homem lançasse semente à terra. E dormisse, e se levantasse de noite ou de dia, e a semente brotasse e crescesse, não sabendo ele como. Porque a terra por si mesma frutifica, primeiro a erva, depois a espiga, por último o grão cheio na espiga. E, quando já o fruto se mostra, mete-se-lhe logo a foice, porque está chegada a ceifa".
A Palavra que cai num coração honesto e bom, no coração de um cristão normal, que permanece em Cristo e na Sua Palavra (João 15.4-7), ele dá fruto com perseverança. O fruto não é nosso, mas de Cristo, do Espírito: "Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança" Gálatas 5.22; mas para isso, é necessário que cresçamos em tudo, naquele que é a cabeça Cristo, com um aumento concedido por Deus, e não no tempo desse mundo: "Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão, e não ligado à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus" Colossenses 2.18-19.
Como disse Jesus, é necessário primeiro nascer de novo: "Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus" João 3.3, depois crescer na graça e no conhecimento dEle: "Antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo" II Pedro 3.18; se encher do Espírito: "E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito" Efésios 5.18; depois perseverar nEle, e o fruto se tornará uma conseqüência natural: "Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós as varas; quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer" João 15.4-5.
Todo o trabalho é de Deus, de Seu Filho Jesus, e do Espírito Santo. Eles têm lançado a sua semente, regado e trabalhado, para que se regozijem no tempo da colheita: "E o que ceifa recebe galardão, e ajunta fruto para a vida eterna; para que, assim o que semeia como o que ceifa, ambos se regozijem" João 4.36. Toda vara nEle que não dá fruto será cortada e lançada no fogo (João 15.6). Todo o empenho do Senhor com os seus filhos é que dê o seu fruto a seu tempo: "Porque a terra que embebe a chuva, que muitas vezes cai sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção de Deus; mas a que produz espinhos e abrolhos, é reprovada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada. Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos. Porque Deus não é injusto para se esquecer da vossa obra, e do trabalho do amor que para com o seu nome mostrastes, enquanto servistes aos santos; e ainda servis. Mas desejamos que cada um de vós mostre o mesmo cuidado até ao fim, para completa certeza da esperança; para que vos não façais negligentes, mas sejais imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas" Hebreus 6.7-12.
Mas mesmo dando fruto com perseverança Jesus nos diz por esta semente que caiu em boa terra, que a produção dos frutos podem ser em porcentagens diferentes. Em Lucas diz apenas que produz cento por um, mas em Marcos, no capítulo 4, no verso 20 diz: "E os que recebem a semente em boa terra são os que ouvem a palavra e a recebem, e dão fruto, um a trinta, outro a sessenta, outro a cem, por um". Este um é Cristo, é a divina semente que permanece em nós (I João 3.9), e nEle podemos frutificar 100%, 60% ou 30%. Lucas fala 100, e em Marcos também termina por 100, porque o propósito do Senhor é que vivamos 100% em Cristo. Que 100% da nossa vida seja dando fruto para Deus em Cristo (Romanos 7.4).
Por isso temos que estar apercebidos, vigiando, porque nem tudo o que reluz neste mundo é ouro, é do alto. Se algo que parece ser bom se tornar instrumento de impedimento para o crescimento na vida cristã é uma tentação e não benção. Vemos que a mesma artimanha que Satanás usou com Jesus, usa com os filhos de Deus. Na tentação de Jesus no deserto, ele primeiro tenta fazer da Palavra de Deus algo apenas para o sustento da sua necessidade e prazer cotidiano. Com Pedro, ele tenta Jesus a ter compaixão de si mesmo, tentando levar Jesus a se escandalizar do caminho da cruz que Deus o Pai tinha determinado para Ele (Mateus 16.21-22). Depois, retornando novamente à tentação no deserto, tenta Jesus com as riquezas e glórias deste mundo (Mateus 4.3-11). Estas são as mesmas três coisas que Jesus disse na parábola do semeador: a semente que caiu à beira do caminho, entre as pedras e entre os espinhos.
Da mesma maneira que Ele foi tentado nós também somos, e da mesma maneira que Ele sofreu e perseverou, nós temos também que sofrer e perseverar. Claro! Não em nós mesmos, não na força do nosso braço e suficiência, mas naquele que já é vencedor e que em tudo nos conduz em triunfo: Cristo nossa vida. E se sofrermos e perseverarmos Jesus nos dá a promessa de reinarmos com Ele, caso contrário Ele nos negará: "Se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará; se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo". II Timóteo 2.12-13. Ele é justo, porque estaremos negando aquele que em nós é tudo em todos. Amém.
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